quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Gagueira do Rei.

  Depois de dias resolvendo coisas encerradas e tentando encerrar outras, finalmente reapareço e já peço desculpas a vocês leitores pela desatualização do nosso blog.
  Enfim, o filme escolhido para hoje é "The King's Speech", que em português recebeu o nome "O Discurso do Rei".
  "O Discurso do Rei" narra a história real do então Duque de York Albert (Colin Firth), mais conhecido como Bertie, que é gago e, portanto, tem problemas para falar em publico. Após ir a diversos médicos, o Duque tem uma surpresa de sua esposa Elizabeth (Helena Bonham Carter). Ela recebe recomendações sobre um especialista nesse problema, resolve contatá-lo e consegue, após muita insistência, levar seu marido para se consultar com Lionel Logue (Geoffrey Rush).
  Paralelo ao seu problema, Bertie presencia a morte do pai, a ascensão ao trono do seu irmão mais velho David (Guy Pearce), o Rei Edward VIII, ao polêmico casamento de David com Wallis Simpson (Eve Best) - mulher duas vezes divorciada, a renúncia ao trono real por parte de seu irmão e a sua tão temida ascensão como o novo Rei da Grã-Bretanha. Ah! Sem esquecer que após assumir o reinado, ele vivencia o início da Segunda Grande Guerra Mundial. Ou seja, uma situação bastante atribulada entre idas e vindas ao, chamado por Bertie, Doutor Logue, a fim de investigar e descobrir do porque da gagueira do, provável, novo Rei da Inglaterra. E é assim nesse emaranhado de ocorrências, que o filme se desenrola, dando ênfase ao discurso real sobre o início da Segunda Guerra.
  Posso dizer que Colin Firch, me convenceu como ator nesse filme e que é o meu favorito na disputa pelo Oscar de Melhor Ator de 2011. Ah! Devo dar os louros ao profissional que trabalhou com Colin o mecanismo de produzir uma gagueira, de forma a deixá-la real e convincente. No entanto, os louros para o ator não serão apagados. Ele arrebata o telespectador em sua atuação, provoca uma catarse profunda na sequencia em que fala pela primeira vez sobre o possível motivo do início da gagueira de sua personagem entre os 4 e 5 anos de idade, com os problemas de Bertie e Daniel, o medo de assumir o trono real, entre outras. Enfim, ele dá um banho de atuação e está merecidamente na disputa pela estatueta.
  Helena Boham Carter, esposa do famoso diretor Tim Burton, está impecável em seu papel como a Rainha Elizabeth, que mais tarde no reinado de sua filha também chamada Elizabeth, será chamada de A Rainha Mãe. Uma mulher que batalhou e defendeu com unhas e dentes seu marido para que fosse curado. Helena é famosa por sua personagem Belatrix, na saga Harry Porter, e por recentemente ter dado vida à Rainha Vermelha no filme "Alice no País das Maravilhas" do seu marido Tim Burton, embora já tenha atuado em outros filmes. Enfim ela também arranca elogios do início ao fim. Contudo, minha favorita ao Oscar de Melhor Atriz de 2011 continua sendo Natalie Portaman, por "Cisne Negro".
  E a ultima atuação que destaco nesse filme é a de Rush, que dá vida ao ator, e confundido pelo Rei George VI como médico, Lionel Logue. Geoffrey traz a tona a discussão sobre até que ponto um ator seria capaz de interpretar um papel. Ele é um ator decadente que torna-se especialista no tratamento de problemas ligados à fala, e é por isso que Lionel conhece Elizabeth e Albert e, então, começa a tratar o Duque de York. Sua atuação é hilariante, num bom sentido, como o verdadeiro Logue deveria ser. Não que ela tenha tons de palhaçaria, ao contrário, passa bem longe disso. Ele põe para o telespectador a capacidade de interpretação que um bom ator tem. E nisso leva a quem assiste o filme, a ver nele um médico especialista em fala, o que hoje é chamado de fonoaudiólogo.
  "O Discurso do Rei" é um dos favoritos ao Oscar 2011, recebendo 12 indicações, dentre elas Melhor Filme e Melhor Ator. Além do Oscar, teve indicações no Globo de Ouro e levou para casa a estatueta de Melhor Ator. Recebeu também indicações da BAFTA (Academia Britânica de Artes da Televisão e Cinema), conhecido como o "Oscar Britânico", levando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Filme Britânico, Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora. Recebeu da associação de produtores Producers Guild Awards o prêmio de Melhor Filme e do Sindicato dos Atores de Hollywood, os prêmios de Melhor Elenco e Melhor Ator Protagonista.
  Há historiadores que contestam a total veracidade dos fatos apresentados no filme. O filho mais velho de George V (Michael Gambom), David, era na verdade um ferrenho defensor do ditador Adolf Hitler, e que ao contrário do que é mostrado no filme, que ele abdicou o trono, para casar-se com Wallis, o seu apoio a Hitler seria o principal motivo de tal fato. Outro fato contestado é que David, não estaria ao lado do pai quando morreu. Ele estaria em um sáfari na África e se recusara a interromper sua viagem com a notícia. E que Winston Churchill (Timothy Spall), não teria apoiado desde sempre a abdicação de David em favor de Albert. Ele seria um defensor do provável nazista, David, e isso lhe causou sérios problemas na corte inglesa. Está bem que alguns historiadores condenem o fato de que o filme não tenha sido totalmente verossímil com os fatos, no entanto, é comum para todos de que obras biográficas, não são fiéis, totalmente, à história e ainda mais tratando-se de uma adaptação.
  A fotografia do filme tem sua coloração bastante azulada, o que denota a passividade, a angústia, introspecção, pessimismo,  carência, o medo por não saber falar em publico, como também relacionados a não enfrentar o seu irmão David. No entanto o azul pode representar também uma personalidade altruísta, terna, social, presentes mais na personalidade da personagem de Boham Carter e com alto grau de intelecto, nas personagens de Firch, Carter e Rush. A fotografia muda sua tonalidade no recinto em que Logue trata George VI. Essa mudança de cor tem base no intuito o qual o Duque de York, e futuro Rei, procurou Lionel. Ou seja, se curar. Portanto, não há mais espaço para as tonalidades de azul. Os figurinos permeiam as cores preta, branca, cinza, prata, azul, marrom, entre outras que significam, num geral, pessimismo, tristeza,  desgraça, dor, temor, negação, melancolia, opressão, angustia, renúncia, intriga, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência, dignidade, afirmação, modéstia, harmonia, estabilidade, velhice, desânimo, seriedade, sabedoria, passado, pena, aborrecimento, modernidade, requinte, angústias interiores, hipersensibilidade e até mesmo apatia, insegurança, baixa auto estima, egocentrismo, manipulação, resistência, teimosia, falta de sensibilidade, de companheirismo, dificuldade em relacionamentos sociais e afetivos, da desconfiança, da verdade absoluta e etc. Características das personalidades das principais personalidades representadas no filme. Para quem tem dúvidas quanto a essas informações, assista ao filme  procure em livros que tratam sobre a interpretação das cores. E depois comente se encontrou ou não nas personagens essas características.

  Enfim, "O Discurso do Rei" foi produzido em 2010, tem direção de Tom Hooper, roteiro de David Seidler, direção de fotografia de Danny Cohen, direção de arte de Natty Chapman, figurinos de Jenny Beavan, trilha sonora original de Alexandre Desplat - músico responsável também pela trilha sonora do filme "Julie & Julia" que já foi discutido nesse blog, cenários de Judy Farr, com duração aproximada de 118 minutos, incluindo os créditos finais.

PS: Vale deixar aqui a informação de que uma cantora, talvez não muito conhecida (afirmação irônica), que já dirigiu alguns filmes, lançará esse ano no Festival de Cannes, o seu novo filme chamado "W.E.", que narra de um outro ponto de vista a história da abdicação de David, o Rei Edward VIII, do reino da Grã-Bretanha para casar-se com Wallis Simpson. O foco da narrativa parte da visão de Wallis, socialite divorcida e infeliz em seu casamento acaba tendo um romance com um segurança russo no leilão Sotheby's. O filme já foi bem recebido por produtores que assistiram a 30 minutos em exibição fechada no Festival de Berlim desse ano. E a cantora a que me refiro é a Rainha do Pop, Madonna. Fica a dica em assistir ao filme para ver um novo ponto de vista sobre uma mesma história contada rapidamente em "The King's Speech".


Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
TETI JÚNIOR, Ricardo Falcão. Análise da iluminação, a partir do Teatro de Brecht, no filme "Dogville". SAMPAIO, José Roberto Santos. (orientação).

Um comentário:

  1. Ricardo,

    A melhor resenha que li até agora sobre o filme foi escrita por uma pessoa que, assim como o Rei George VI, também tem gagueira persistente.

    Veja que resenha excelente: A Incerteza da Fala

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