O filme é "Animal Kingdom", "Reino Animal" em português, do diretor David Michôd, que concorre ao Oscar 2011 na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, e concorreu nessa mesma categoria também ao Globo de Ouro 2011, ganhou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro pelo Festival de Sundance de 2010.
Joshua Cody (James Frecheville), carinhosamente chamado de "J" pela família, um jovem de 17 anos, tem sua mãe morta por overdose de heroína. Ele liga para sua avó Janine Cody (Jacki Weaver) dando a notícia, e ela, prontamente, acolhe o neto dentro de casa. O problema é que sua família materna tem uma longa ficha criminal por assaltos, assassinados, narcotráfico e por aí vai. Ele, que até então só havia ouvido as estórias pela boca da mãe, passa a viver e conviver diariamente com tudo isso. Aos 17 anos e com uma vida pela frente a ser construída e vivida, J arranja uma namorada, a jovem Nicole (Laura Weelwright), no entanto, pelo risco de vida que corre, por causa dos seus tios Darren Cody (Luke Ford), Barry Brown (Joel Edgerton), Craig Cody (Sullivan Stapleton) e Andrew Cody (Ben Mendelsohn), mais conhecido como "Pope", que alertam o garoto sobre o perigo que colocará a jovem Niccky se o namoro continuar. Ou seja, Joshua, não conseguirá mais viver tranquilamente sua vida. Em contrapartida a isso existe a figura do investigador policial Nathan Leckie (Guy Pearce), que se esforça para salvar J desse seio familiar, meio que desnorteado.
James Frecheville desempenha muito bem seu papel de jovem perdido, após a morte da mãe, que em busca de uma vida familiar tranquila, se vê mais perdido ainda ao ir morar na casa da avó. Uma casa um tanto quanto com padrões sociais adquiridos de forma ilegal, numa junção de crimes, com indícios de um possível incesto entre a avó e seus tios. Tudo isso para a cabeça de um jovem, são coisas difíceis de absolver repentinamente. Excelente atuação, dentro dos moldes da direção, que transita entre uma normalidade e inconstâncias psicológicas perante à toda situação em que agora vive.
Jacki Weaver, que concorre à Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar 2011, mal aparece no filme. Com cenas instantâneas, quanto à rapidez de sua exibição, ela só recebe destaque mesmo já próximo dos minutos finais da película. A cena de destaque dela, talvez a que a fez disputar essa categoria, é quando ela vai com o advogado da família, no escritório do Detetive Randall Roache (Justin Rosniak), que tem o "rabo" preso com os Cody, e, indiretamente ironias à parte, sem chantagens escancaradas e de forma "bem sutil", ela o obriga a fazer o impossível para tirar seus filhos que estão na cadeia. Sim, a essa altura, Barry e Craig já foram mortos e Pope e Darren estão presos por assassinato. Ao meu ver, essa é também a melhor cena de todo o roteiro. Com personalidade fria e calculista, Janine constrói toda uma fortaleza de defesas incontestáveis a fim de retirar seus rebentos de trás das grades. E para isso, sua principal vítima e isca, será o jovem Joshua, que terá seu testemunho alterado e treinado por seus advogados corruptos, para convencer o juiz da inocência de Andrew e Darren.
Com um roteiro, extremamente, típico e comum entre os filmes de perseguição policial, tráfico de drogas e assassinatos, a estória não tem grandes surpresas. No entanto, ela é contada a partir de um novo ponto de vista. Ao invés de ser de quem comete os crimes, é por um membro da família, que se vê perdido pela morte da mãe e, mais ainda, com toda essa novidade de um mundo criminal entre parentes. Destaco as cenas em que os enquadramentos são editados em "slow motion", a famosa "câmera lenta", com narrações de Joshua, contando as situações para que aquilo estivesse ocorrendo, ou que será gerado por aquela atitude. Essas cenas são, além da já mencionada no parágrafo anterior, as melhores, não só apenas por interpretação, mas também, na questão técnica de filmagem, montagem e edição de uma produção cinematográfica.
"Animal Kingdom", um filme australiano, produzido em 2009, baseado em fatos reais sobre o tiroteio de Walsh Street, com direção e roteiro de David Michôd, fotografia de Adam Arkapow, trilha sonora de Antony Partos, direção de arte de Janie Parker e figurinos de Cappi Ireland, tem duração aproximada de 114 minutos, incluindo os créditos finais.
Texto: Ricardo Montalvão
Referências:
Nenhum comentário:
Postar um comentário