quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

E esse Mark, hein?

  Depois de passar uma semana em Salvador resolvendo umas coisas da minha vida, eis que o nosso blog volta a ser atualizado. E o filme escolhido para hoje é "The Social Network" (A Rede Social).
  “The Social Network” é um filme que conta a história de como o criador do então Facebook, Mark Zuckerberg, que é interpretado pelo ator Jesse Eisenberg, fez para colocá-lo em prática.
  Depois de levar um fora de sua namorada, de acordo com o que conta o filme, Zuckerberg, senta em frente ao seu notebook e começa a denegrir a garota. Nesse meio tempo, resolve criar uma enquete para descobrir quem seria a garota mais bonita da Universidade de Havard. Ele consegue, simplesmente, fazer com que a rede de computadores na universidade saia do ar e descobre a ferramenta de como fazer uma rede social e transformá-la em um sucesso estrondoso. O que ele não esperava é que com a sua fama, viriam inúmeros inimigos ligados a isso e por conseqüência alguns processos judiciais por calúnia, difamação, roubo de idéias e por aí vai.
  Isso é mais ou menos o que acontece no filme do diretor David Fincher. E então agora vamos a algumas ressalvas sobre a produção.
  O filme tem o seu ritmo bastante acelerado, muito provavelmente fazendo uma associação com a velocidade de troca de informações da internet. O problema é que logo na primeira cena, a que Mark leva um fora da sua suposta namorada, a jovem Erica Albrirht (Rooney Mara). Isso mesmo, suposta, pois de acordo com o verdadeiro Mark Zuckerberg, a estória da namorada, nunca existiu. Mas para o cinema, isso não importa muito, se o intuito é fazer um reboliço maior para que suas produções tenham êxito. Voltando à cena e à discussão, esse ritmo bastante acelerado do diálogo entre os dois atores, cansa o publico. Tudo bem que é sabido por quase todos que a velocidade da internet, num geral, é rápida, mas não precisa passar isso através de um ritmo fora do comum nas falas das personagens, não é Fincher?
  A película não aparenta ao certo se tem intuito documental ou se é biográfico. Entre idas e vindas entre passado e presente, o estilo de roteiro confunde o telespectador sem que saiba se ele é um documentário ou uma biografia. O que acaba trazendo mais cansaço e chateação durante sua exibição. Diria mesmo que quem segura o filme e faz com que o publico resolva ficar até o seu final, não só apenas pela história da criação da rede social da moda, o Facebook, mas sim falando de algo mais técnico, é mesmo a atuação de Jesse Eisenberg. Ele sim arranca elogios por toda a produção. Por mais que seja baseado em uma história real, e que talvez se pense que não há tanto a se trabalhar um ator para algo que é verídico, mas se o profissional não for muito bom no que faz, sinto muito em dizer, não adianta de nada. Jesse em sua jovialidade transparece muito bem a ironia, sarcasmo, coragem e empreendedorismo que Zuckerberg teve para se lançar no mundo cibernético como criador do Facebook. E é aí que está o bom preparo de um ator. Se Eisenberg não fosse bom em seu trabalho, como ele convenceria ao publico que é realmente o mais jovem bilionário do mundo? E como faria com que o telespectador entrasse em catarse com o conteúdo do filme e se associasse a ele? Ficam aí boas perguntas a serem respondidas por quem assistiu à película.
  O ator Armie Hammer, que deu vida aos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, que foram um contraponto ao alto entusiasmo cibernético de Mark, e o chamam para que juntos criem uma rede social para os alunos de Havard. Tem sua atuação louvável, afinal dar vida a dois ao mesmo tempo, não é algo fácil. Porém, ele não arranca bons suspiros por seu trabalho. Ao passo que Andrew Garfield, que interpreta o brasileiro Eduardo Saverin, que é melhor amigo de Mark, fica em segundo lugar pelo seu trabalho. Dando vida ao que se pode dizer “cérebro” do futuro Facebook, e além de ser o real investidor da empreitada, ele auxilia e financia Mark em todas as suas idéias e põe em cheque até que ponto pode ir uma amizade verdadeira e até que ponto isso pode se tornar apenas uma forma de ascensão social.
  O dito “queridinho” Justin Timberlake, pessoalmente, não me convence nem como ator, e muito menos como cantor. Mas enfim, vamos à atuação dele. Ele dá vida a Sean Park, criador do programa Napster que dá acesso ao compartilhamento, via internet, de musicas, sem nenhum tipo de cobrança financeira. Ele foi convidado por Mark a fazer parte como colaborador de sua empreitada. Enfim para uma pequena participação na produção, ele até que atingiu as expectativas que talvez o diretor tenha tido sobre sua pessoa. Entretanto, é um papel que não, necessariamente, precisaria ser feito por ele. Outro ator faria muito bem, mesmo que não tivesse tanta experiência de trabalho.
  Embora essa produção tenha levado para casa o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora, e portanto pelo peso que essa premiação tem, faz com que ele seja apontado como um dos favoritos ao Oscar 2011, “The Social Network”, tirando a trilha sonora que chega perto de dar um norte, um rumo, ao filme, pelo fato de contribuir para a catarse do publico em, quem sabe, torcer a favor do herói, ou seja, aumentando ainda mais o clima de tensão para o clímax e depois, para o desfecho, não chamaria atenção para mais nada ali dentro. A narração não cronológica, juntamente com o acelerado ritmo das falas, cansa quem assiste, além de causar uma ansiedade incrível pelo o final e que o telespectador possa, então, sair da sala dos cinemas ou do seu próprio sofá. A direção, embora seja de Fincher, importante diretor de cinema, é angustiante. Você não sabe se presta atenção ao filme ou se olha as legendas para compreendê-lo. Até mesmo para os nativos ou entendedores do inglês, é difícil pensar que nenhum deles saiu do cinema entendendo exatamente todos os diálogos. Sendo mais prático, há uma necessidade terrível de contar ao máximo todos os fatos sobre a história do Facebook, num filme que só tem duas horas de duração. Se quer ser o mais fiel possível, mesmo tendo inventado a tal da namorada do Mark, fizesse um filme mais longo, certo Fincher?
  Enfim, “The Social Network” adaptação do livro “The Accidental Billionaires” (Bilionários do Ano) de Ben Mezrich, foi produzido em 2010, com direção de David Fincher, roteiro adaptado de Aaron Sorkin, direção de fotografia de Jeff Cronenweth, direção de arte de Keithi Cunnigham e Curt Beech, trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, figurinos de Jacqueline West, tem duração aproximada de 120 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ay, Candela!


  E o filme escolhido para hoje é "El Amor Brujo" (Amor Bruxo), baseado na obra musical de Manuel de Falla. O filme integra uma trilogia a qual pertencem também "Bodas de Sangue e "Carmen", em que todos são dirigidos pelo diretor Carlos Saura.
  O filme narra as estórias de Candela (Cristina Hoyos), prometida desde criança a casar-se com José (Juan António Jimenez), porém a figura de Carmelo (Antonio Gades), o qual é apaixonado pela nossa personagem principal, também desde pequeno, atormentara a vida do futuro casal.
  Crescidos, Candela e José finalmente se casam e é durante as festividades da cerimônia que José envolve-se em uma briga a fim de proteger sua amante Lucía (Laura del Sol). Ao final da confusão, com as chegada da polícia, José acaba sendo assassinado com uma punhalada. Carmelo acaba sendo acusado da morte e portanto é preso. Passados quatro anos, ele sai da cadeia e retorna à vila em que morava. Ao voltar descobre que seu grande amor vive uma prisão à alma de José. Candela toda noite vai ao local da morte de seu marido em busca de visões do seu esposo.
  Entre alucinações e realidades, o amor de Carmelo por ela vem à tona, ao passo que as traições de José são reveladas à sua viúva, que acaba cedendo aos encantos do ex-presidiário. Mas até o final triunfante do novo casal da vila, haverão muitas situações de desvencilhamento de Candela com a alucinação que tem do seu marido morto.
  O filme destaca muito bem a emoção sofrida que é carregada na Dança Flamenca. E isso é um ponto positivo. Talvez pensem até que é muito "drama mexicano", mas o sofrimento flamenco, como qualquer sentimento que intencione um movimento dançado, parte do centro do corpo humano para às extremidades.
  Bom, ao meu ver, encontro um único grande problema de roteiro. Carmelo foi acusado da morte de José, sendo que fica óbvio no filme que foi uma acusação errada, ele é preso, passa quatro anos na cadeia, e ninguém, principalmente Candela que sabe disso, faz nada para impedir que os policiais o levem.
  Como todo bom filme de dança, todos os acontecimentos são contados e depois dançados, ou até mesmo dançados logo de cara. A dança é utilizada, como penso eu que deve ser, como uma atividade fim e não como meio de algo. Ela é trabalhada de forma a passar os sentimentos humanos através da variação do fluxo de energia, portanto da intenção do movimento. E no caso de filmes, conta algo para quem assiste. Portanto, uma atividade que denota finalidade.
  A sequencia de movimentos que narram o encontro, diariamente, noturno entre Candela e José é iluminado com um azul escuro, que representa a madrugada e também a passividade, medo, angústia, carência e sentimentos do tipo que são presentes em Canela pela morte do marido e que fazem-na presa a essa memória. O figurino que a atriz Cristina usa nesses encontros é o mesmo do dia em que a personagem de Juan Antonio foi morta. Uma blusa rosa de mangas compridas, em que a tonalidade rosa significa a fragilidade, ao amor altruísta pela alma de José, o romantismo, doçura, personalidade melosa, o amor espiritual, a espiritualidade mais aguçada, entre outros significados, os quais estão presentes na personagem de Hoyos. Jímenez está vestido com uma blusa branca e uma calça preta manchada de sangue no local da punhalada. O branco denota a paz que a personagem tem ao encontrar sua esposa toda noite, a alma, já que ele é um espírito, além de ser o esposo dela. O preto fala ao enterro, ao funeral, ao mundo sombrio em que ele vive, à condolência que quer, à obscuridade, ao mal, à miséria, à sordidez, à tristeza, à dor, à melancolia, ao pessimismo e à angústia que são sentimentos vividos pelo agora espírito de José. Até a volta de Carmelo, Candela mantinha o luto pelo marido. Após ela começa a vestir-se com outras cores, que representam a quebra do luto e aos novos horizontes que esperava.
  Lucía veste-se sempre com cores vibrantes e saias floridas. A cor mais comum vestida pela personagem de Laura dal Sol é a laranja que representa a competição por José e portanto às atitudes agressivas para tomar tudo que Candela conquista. Também ao desejo por José, ao tesão, à excitação, à tentação e a advertência por querer o marido de outra e à sexualidade, força e prazer pela personagem de Juan. As cores presentes nas saias de Lucía são vermelho, laranja, azul e branco que significam amor, sexo, paz, passividade, calor, tesão, carência, personalidade dinâmica que recorre a atos baixos para conquistar seus objetivos, coragem, vulgaridade, paixão, dignidade, afirmação, deleite, fidelidade, amor profundo e etc. Enfim uma mistura de sentimentos que prescrevem muito bem a instabilidade psicológica dessa personagem.
  As coreografias de declaração de amor de Carmelo por Candela e posteriormente as de consagração desse amor são muito bem pensadas. A que destaco é justamente a penúltima, em que Candela dança a exorcização do espírito de seu marido de sua vida, para viver com o seu novo amor. Uma sequencia de takes que são compostos pelas cores vermelho, laranja, marrom, perto, e amarelo, que representam o fogo, em que a exorcização de José é simbolizada materialmente, já que o fogo representa a libertação dos espíritos perturbadores, além  de significarem também sentimentos já mencionados anteriormente. E na última coreografia do filme sela de verdade o amor de Carmelito e Candelita e Lucía dando sua vida ao seu amor José para vivê-lo além da vida.
  Vale ressaltar que Carlos Saura filmou "El Amor Brujo" dentro de um estúdio em que deixa claro para o telespectador, desde o início, esse fato e sua iluminação é cênica, substituindo a natural. Coisa que o diretor Lars Von Trier fez no filme "DogVille", muitos anos mais tarde.
  "El Amor Brujo", produzido em 1986, baseado no livreto de Gregorio Martínez Sierra, tem direção de Carlos Saura, roteiro adaptado por Carlos Saura e Antonio Gades, musica de Manuel de Falla, coreografias de Carlos Saura e Antonio Gades, figurinos de Gerardo Vera, fotografia de Teo Escamilla, com duração aproximada de 99 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
TETI JÚNIOR, Ricardo Falcão. Análise da iluminação, a partir do Teatro de Brecht, no filme "Dogville". SAMPAIO, José Roberto Santos. (orientação).

domingo, 9 de janeiro de 2011

E esse quarteto amoroso, hein?


  E o filme para hoje é "Vicky Cristina Barcelona" do querido Woody Allen que rendeu a atriz Penelope Cruz o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2009.
  Ele conta as estória de Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), duas amigas que resolvem passar férias em Barcelona, a capital catalã. E em meios às descobertas de tal cidade, conhecem o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), que se separara de sua mulher, também pintora, mas conturbada e descompensada Maria Elena (Penelope Cruz).
  Vicky e Cristina são convidadas por Antonio a irem a um interior da Espanha para passarem juntos, o final de semana em um mesmo quarto e em clima de romance, afinal a intenção do nosso pintor era extremamente sexual. Mesmo se recusando a ir, para não deixar sua amiga sozinha, já que Cris aceitou o convite, a nossa personagem recatada, prática, séria e comportada, embarca nessa aventura. E eis que começam os primeiros problemas.
  Cristina se apaixona por Juan, mas Vicky começa um caso com ele, às vésperas de seu casamento, sem a amiga saber. Quando se envolve com Antonio, Vicky começa a se perguntar sobre seus planos de casamento, seu futuro marido e vê suas expectativas de uma vida a dois, ruirem totalmente. A personagem de Javier, por sua vez, fica também indeciso e cheio de perguntas sobre seus sentimentos com Vicky, após assumir seu romance com Cristina.
  Pois bem, o noivo de Vicky chega à Espanha, Cristina já mora na casa de Juan e quando menos se espera eis que surge, de forma triunfante dentro do seu universo, a esplêndida Cruz com sua personagem Maria Elena. E sua chegada traz uma nova roupagem ao filme. Eis que surge o casamento a três, entre Elena, Cristina e Antonio. Uma união em que a possível e mais próxima sensatez de Cris, dá um equilibro à convivência conturbada das personagens de Bardem e Cruz. E assim se dá o enredo do filme, entre triângulos, "quadrados" e quintetos amorosos com personagens atordoadas, escandalosas, contidas e extravagantes.
  Na boa, esse filme é um saco. Um tédio total, em quase todo ele. Quem o salva da chatice é a maravilhosa Cruz. Junto com ela vêm os reais conflitos da curva dramática, a fotografia dá um 'up', a direção de arte segue junto com a fotografia e tudo fica bacana. Chega dá gosto de assistí-lo, apenas nos momentos que Maria Elena está na estória. Passada Cruz, a repulsa pelo filme, retorna.
  A fotografia com seus tons cítricos por quase toda extensão do filme, embora com seu sentido, dá uma agonia, cansaço, estresse, inquietação e enjoa o telespectador. Ok, o sentido para esses tons cítricos, muito provavelmente, seja pelo fato de que as duas personagens de Hall e Johansson chegam a Barcelona em pleno verão, e pelas cenas nos principais pontos da cidade, traduz o calor da estação, o sangue 'caliente' dos espanhóis, a sensualidade exacerbada da cidade, de Cristina, Juan e Elena, e por aí vai. Mas venhamos e convenhamos, tons cítricos cansam. Já diz a psicologia e semiótica quanto à interpretação do sentido das cores. Enfim, esse clima tenso causado pelos tons de amarelo e laranja, só passa quando Penelope Cruz invade o enredo. Com ela vêm tons de vermelho, verde, azul, cinza, preto, branco e etc. Ou seja, o filme torna-se mais dinâmico, atraente e envolvente para os olhos e mente humana.
  Coincidentemente ou não, tenho escolhido filmes em que na maioria dos casos, há influências do Teatro Épico. Mas juro que isso é coincidência, certo. Bom nesse filme há a presença de um narrador, que serve para contar a nós que assistimos, a vida de cada uma de nossas personagens, sejam coisas que já aconteceram ou que estão a ocorrerem nesse momento, a fim de facilitar nosso entendimento. Isso é Brecht total no filme. E pelos posts anteriores, já devem ter percebido as explicações que menciono para exemplificar o Teatro Épico, contextualizando-o na linguagem cinematrográfica. Portanto, passarei ao próximo tópico.
  Rebecca Hall, e agora peço desculpas a Scarlett, é quem segura o enredo. Sua personagem é muito mais intrigante do que Cristina. Isso sem esquecer que a própria atuação dela está muito melhor do que a de Johansson. E olhe que aprecio bastante a "loirinha" querida de Allen. A personagem Cristina está no filme, completamente sem rumo. E não digo isso só porque é a intenção do diretor e, talvez aí, Scarllet tenha alcançado sucesso. Mas sim, porque a própria atriz se mostra, na película, perdida na personagem. É como se Cristina e Johansson não tivessem casado muito bem, não superando as expectativas para elas. Ao passo que Hall desbanca a colega de trabalho.
  Javier está maravilhosamente convincente no papel do sedutor e aventureiro Juan Antonio. Ele não surpreende muito em sua atuação, mas também não deixa a desejar. Mas Penelope Cruz, atende e surpreende, superando total, as suposições para ela como atriz em sua personagem Elena. Cruz agita o filme, dá um novo colorido a ele, traz a discussão sobre casamentos a três, sobre a possessividade dita por amor e suas consequencias, sobre traições, dúvidas, planejamentos, enfim, ela arrebenta no filme e com toda certeza, foi merecedora do Oscar que recebeu.
  "Vicky Cristina Barcelona", produzido em 2008, tem direção e roteiro de Woody Allen, direção de fotografia de Javier Aguirresarobe, direção de arte de Iñigo Navarro, figurino de Sonia Grande e cenografia de Alain Bainée, com duração aproximada de 96 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

sábado, 8 de janeiro de 2011

Animais na pista.


  O filme de hoje é "Un Prophete" (O Profeta) que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010.
  O filme conta a estória de Malik El Djebena (Tahar Rahim) que por agredir policiais foi preso e pegou 6 anos de prisão. Ao chegar na penitenciária, ele é obrigado pelo preso chefe da máfia carcerária a matar outro preso. Caso não mate o preso Rayeb (Hichem Yacoubi), ele mesmo será morto pelos capangas do líder que comanda a prisão, o velho César Luciani (Niels Arestrup).
  Nessa onda de matar Rayeb para se manter vivo e ser protegido por Luciani e seus capangas, El Djebena, que chegara na prisão aos 19 anos, começa a aprender como mandar naquele recinto. Ele vira braço direito de César, ao mesmo tempo que começa a montar um negócio de tráfico entre ele e Jordi (Reda Kateb), conhecido na prisão como "O Cigano". Malik conhece Ryad (Adel Bencherif) que o auxilia a aprender a ler e escrever francês. E amobos tornam-se grandes amigos.
  Após a saída de Ryad da cadeia, os dois mantém a mesma amizade a ponto de El Djebena ser convidado a apadrinhar o pequeno filhoe de Ryad. Essa amizade entre eles, faz com que Malik inclua seu amigo em seus planos de tráfico de hachiche, juntamente com o Cigano. Em contrapartida ele continua a trabalha para Luciani, que o faz conseguir liberação para trabalhar fora da cadeia, a fim de que nosso "herói" coordene seus negócios fora da cadeia.
  E é nesse emarenhado de mandos e desmandos, gangues, golpes, tráfico e assassinatos, que a vida de Malik é feita na prisão.
  Tahar Raim segura o filme durante suas quase 3 horas de duração. A trajetória de vida  de sua personagem, que a princípio é medroso, lento e nervoso, dá a ele uma excelente curva dramática no enredo a fim de consagrá-lo no final do filme. E de fato ele consagra sua personagem, e consequentemente, sua principiante carreira. Outro que merece destaque em sua atuação é Niels Arestrup que interpreta o chefe da gangue carcerária com poder até no diretor da cadeia. Um senhor de seus 70 anos, durão, mafioso, poderoso que manda e desmanda ali dentro e com a ascenção de Malik, vai perdendo seu poder até tornar-se um velho indefeso. Algo bem complicado de ser aceito por quem um dia já foi rei e agora é plebeu. Adel Bencherif é outro que dá um brilho a mais no filme de Jacques Audiard. Amigo de El Djebena, trata-o como irmão e o protege atrás das grades, além de ajudá-lo a se alfabetizar. Como sofre de câncer nos testículos em estágio avançado e desacreditado, Ryad dar a Malik a incubência de cuidar de sua família após sua morte.
  A trilha sonora do filme dá um show a parte em complementar e enriquecer ainda mais as incríveis seqüências fotográficas do filme. Entre rap's e musicas instrumentais, o clima de tensão e a ascensão com o sucesso de Malik, faz o telespectador se contorcer de medo e dançar na poltrona do cinema ou em seu sofá. E por mais que ele seja considerado um anti-herói, já que muda seu comportamento a fim de assegurar sua vida e toma suas atitudes com esse intuito, influência do teatro de Brecht, você passa o filme todo torcendo para que nossa personagem principal obtenha sucesso em cada uma de suas façanhas. Isso faz com que o telespectador não se envolva diretamente com o filme, não entre em catarse, e passe a refletir sobre as condições de vida carcerária e também se coloque no lugar da personagem de Tahar, pensando no que faria se estivesse no lugar dele. Temos aí mais outro princípio do teatro de Bertolt Brecht, tão mencionado nesse blog. Claro e afinal pelo apreço de quem vos fala por esse brilhante teatrólogo.
  "Un Prophete", produzido em 2009, com direção de Jacques Audiard, roteiro de Thomas Bidegain, Jacques Audiard, Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit, tem duração aproximada de 155 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Audrey, comece a rezar.


  E o filme escolhido para hoje é "The Nun's Story" que em português se chama "Uma Cruz À Beira do Abismo" com a nossa querida Audrey Hepburn.
  Gabrielle Van Der Hall (Audrey Hepburn) decide entrar para o convento Casa Mãe da sua cidade natal, Bruxellas. Seria mais uma estória comum de filmes que falam de futuras freiras. Mas Gabrielle, que após entrar para o convento passa a ser chamada de Irmã Luke, sofre bastante com todas as regras de uma vida religiosa. Ela não pode falar com as outras Irmãs. Uma restrição ao som que vai até mesmo aos seus pensamentos. A congregação do convento Casa Mãe, creio eu que deva ocorrer isso mesmo em conventos não fictícios, prega a destruição do orgulho e amor próprio, em favor da humilhação e humildade. E isso se torna uma tremenda dor de cabeça para a nossa heroína.
  A princípio ela toma a decisão de se dedicar a Deus, por admiração a uma das freiras do convento. Mas principalmente também com o desejo de se tornar uma Irmã enfermeira a fim de ser transferida para o Congo e poder exercer a função que aprendeu com seu pai, o famoso médico Dr. Van Der Hall (Dean Jagger). Após passar por várias provações em busca da humildade, Gabrielle, ou melhor dizendo a Irmã Luke, é mandada ao país do Congo. Porém, ao invés de ser escalada para trabalhar no hospital nativo, ela foi designada a exercer a função de enfermeira no hospital dos europeus. E lá ela conhece o Dr. Fortunati (Peter Finch), com quem adquire mais conhecimento em enfermagem, tornando-se a melhor auxiliar do cirurgião, feito pelo ator Finch.
  Ela acaba retornando à Bélgica, pois acabara de estourar a II Guerra Mundial, e era necessário alguém com tamanha experiência que nem ela. Com esse retorno, todos os questionamentos e tormentos que perseguiam nossa personagem principal, voltam a atordoá-la. Fazendo com que ela fique entre a cruz e a espada. Abandonar ou não o hábito.
  A, conhecida com personagens ditas estonteantes, atriz Audery Hepburn encarna um papel altamente profundo, saindo dos clichês pelos quais é conhecida nos filmes "Breakfast at Tiffany's" (Bonequinha de Luxo), ou "My Fair Lady" (Minha Querida Dama). Embora ela tenha feito muitos outros filmes, destaco "The Children's Hour" (Infâmia). Assistir Hepburn atuando é algo fenomenal. Algo em que você se curva para reverenciá-la por sua atuação. Ela dá vida à Irmã Luke mostrando, claramente, todos os medos, angustias, receios, enfim, toda a instabilidade psicológica que sua personagem vive entre continuar ou não sendo uma freira. Não tem como começar esse filme e não terminá-lo em uma unica sentada em frente à televisão. É uma atuação sem palavras, e isso falo com toda sinceridade. Mesmo depois de 50 anos de produção, ela põe, nesse filme e nos demais, qualquer atriz no chinelo. Ela desbanca até mesmo a minha querida e estimada Meryl Streep. Uma lástima, desde 1993, Audrey não estar mais entre nós. Mas como dizem por aí "Estrela não morre, apenas sai de cena".
  A direção de arte e cenógrafo dão um banho de estilo em suas construções para o filme. Ora grandes painéis pintados obedecendo a lei da perspectiva, ora com cenários reais, é um trabalho extremamente fabuloso. A direção de fotografia, então nem se fala. A atuação de Audrey, sem esquecer dos demais atores, e os enquadramentos pormenorizados ou abertos, traduzem para o telespectador de forma bem clara o quanto cheia de recusas é a vida religiosa. Não estou aqui desmerecendo a religião católica, que fique bem claro. A cenografia, com direção de arte e fotografia não teriam o mesmo efeito psicológico se não fosse a maravilhosa trilha sonora instrumental do filme. Ah! Não se pode esquecer do excelente trabalho de envelhecimento da querida Hepburn.
  O filme recebeu várias indicações nos principais festivais de cinema da época, recebendo no Festival Internacional de Sán Sebastian o Prêmio Concha de Ouro para Fred Zinnemann, e o Prêmio Concha de Prata de Melhor Atriz para Hepburn. Na Academia Britânica de Cinema e Televisão, o Prêmio de Melhor Atriz Britânica também para Audrey Hepburn. E no Círculo dos Críticos de Cinema de New York, os prêmios de Melhor Diretor para Fred Zinnemann e, mais uma vez, Melhor Atriz para a intérprete da Irmã Luke.
  "The Nun's Story" (Uma Cruz À Beira do Abismo), baseado no livro de Kathryn Hulme, foi produzido em 1959, com direção de Fred Zinnemann, roteiro adaptado de Robert Anderson, direção de arte de Alexandre Trauner, fotografia de Franz Planer, música de Franz Waxman, maquiagem de Alberto de Rossi, tem duração aproximada de 151 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

É hora de matar a fome.



  E como ontem não tivemos filme comentado em nosso blog, hoje resolvi comentar sobre dois. E o segundo filme de hoje é "Julie & Julia", baseado em duas histórias reais contadas nos livros "My Life In France" (Minha Vida na França) de Julia Child e "Julie & Julia" de Julie Powell.
  O filme narra duas histórias de vida. A primeira é sobre Julia Child (Meryl Streep), esposa de Paul Child (Stanley Tucci), um americano que trabalha com a área de cultura nas embaixadas dos EUA pelo mundo. Paul foi transferido para Paris e lá sua esposa, Julia, descobre depois de muitas tentativas a sua verdadeira vocação. Julia amava comer e se arriscando no curso avançado de culinária no Le Cordon Bleu, dominado até então apenas por homens, descobre que sua vida é cozinhar. Vale lembrar que nossa querida senhora Child não sabia cozinhar e resolveu aprender em um dos melhores cursos de Paris e em uma turma de chefes de cozinha. Julia se destaca entre os alunos tornando-se a melhor aluna da classe, o que a faz chamar atenção de outras mulheres para o curso que participa. Em Paris ela conhece as senhoras Simone Beck (Linda Emond) e Louisette Bertholle (Helen Carey), duas escritoras que decidiram escrever um livro de culinária francesa para as donas de casa dos estados Unidos. Simca, como era conhecida Simone Beck, e Louisette convidam a personagem de Meryl Streep para adentrar nessa empreitada. Claro que ela aceita. Já que quando chegara em Paris, procurou bastante por toda a cidade um livro de culinária francesa escrito em inglês e não achou. Julia acaba sendo encarregada de traduzir o livro para o inglês e junto a isso fazer as alterações no sistema volumétrico para que as receitas ficassem iguais a quando foram concebidas em francês. Depois de oito anos de tradução e medição e editoras recusando o livro das três senhoras, eis que a Alfred A. Kinops Incorporações aceita publicar o livro delas. O livro que inicialmente se chamaria "Receitas Francesas Para Cozinheiras Americanas, teve seu nome alterado para "Dominando a Arte da Culinária Francesa". Um livro que mudou a história da culinária nos EUA e que até o término da produção do filme ele estava em sua 49a edição.
  Em contrapartida temos contada a história de Julie Powell (Amy Adams), uma funcionária pública dos Estados Unidos, a mesma profissão de Julia Child, insatisfeita com sua profissão que redescobre o amor pela vida ao perceber que ama comer e por ter a senhora Child como ídolo, resolve cozinhar. Ou melhor, aprender a cozinhar. Por esse motivo Powell decide que no período de um ano, cozinhará as 524 receitas do livro de Child, fazendo um diário de bordo e publicando em seu blog. Julie Powell é casa com Erick Powell (Chris Messina), que é quem dá a idéia do blog a ela. Erick e Julie passarão a viver dias de guerra durante esse novo projeto de vida dela. Já que nossa querida heroína que vive nos Estados Unidos durante a primeira década do século XXI, passará a dar mais importância ao seu blog e suas aventuras culinárias, do que ao próprio marido.
  "Julie & Julia" deu a atriz Meryl Streep a 16a indicação ao Oscar de Melhor Atriz no ano de 2010, embora sua colega de profissão Sandra Bullock tenha levado a estatueta para casa. O que, particularmente, é mais uma das injustiças cometidas pela academia. Enfim, Meryl executou, mais uma vez, seu trabalho primorosamente. Ela interpreta a querida senhora Child de maneira a mostrar ao telespectador o quanto ela era uma pessoa humana, bondosa, estonteante, alegre, mesmo nos piores momentos de sua vida. Diria que é uma aula de interpretação e que se não fosse ela a levar o Oscar do ano passado que no máximo fosse a jovem atriz, de idade e de profissão, Gabourey Sidibe que interpretou Claireece Precious Jone, no filme "Preciosa - Uma história de esperança".
  A atriz Amy Adams dá vida no cinema a Julie Powell, creio que, transpassando a real personalidade da escritora. Uma mulher cheia de esperanças de uma nova vida a partir de sua empreitada de fazer as 524 receitas de Julia Child, em 365 dias. E o que tudo isso lhe causou e a reviravolta de 360° graus que sofreu com o sucesso de seu projeto.
  O ator Stanley Tucci, como sempre também, dá um banho de interpretação em mais esse papel. Inclusive, ao meu ver, a indicação so Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2010 deveria ser dada a ele por esse filme e não por "Um Olhar No Paraíso". Algo que deixou o ator bastante irritado, pois não queria ser lembrado na história do cinema mundial por um filme em que dá vida, no mundo da ficção, a um assassino em série de crianças. E deve ter sido por desaprovar essa indicação feita pela academia, que ele com certeza torceu tanto para perder que de fato não levou para a casa a estatueta ano passado.
  A direção de arte, fotografia e figurino, assim como os atores, estão de parabéns. As riquezas de detalhes nas vestes, nos cenário e enquadramentos, faz de "Julie & Julia" um excelente filme. Sem esquecer da maravilhosa trilha sonora, também.
  "Julie & Julia", produzido em 2009, tem direção de Nora Ephron, roteiro adaptado de Nora Ephron, direção de arte de Benjamim John Barraud e Bettina Von Den Steinen, figurinos de Ann Roth, direção de fotografia de Stephen Goldblatt, música de Alexandre Desplat, com duração aproximada de 123 minutos, incluindo os créditos finais.

  Então como a própria Julia Child dizia, "Bon Appétit" e se deliciem ao ver essa saborosa aventura culinária.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

PS: Esse filme para mim, atualmente, tem uma grande identificação comigo, pois assim como Julie Powell, também decidi me lançar em uma empreitada no final do ano passado, que é a de criar esse blog que vocês têm lido. No caso dela sobre culinária e em um prazo de 12 meses. No meu, sem prazo determinado, e sobre cinema.

Abram as cortinas.


  Depois de um dia sem atualizar nosso blog, por motivos de estudo, o filme de hoje é "One Last Dance" (A Última Dança).
  O filme conta a história de Travis McPhearson (Patrick Swayze), Chrissa Lindh (Lisa Niemi) e Max Delgado (George De La Pena) que são convidados a retornarem à companhia de dança que trabalhavam após a morte do diretor artístico dela, o coreógrafo Alex McGrath (Matthew Walker). Como a companhia está endividada, os funcionários resolvem entrar em tourne com o espetáculo "Sem Palavras", que estava sendo remontado pelo diretor Alex. Até então não havia problemas com a remontagem desse espetáculo, se não fossem pelos antigos bailarinos Travis, Chrissa e Max terem abandonado suas carreiras há 7 anos por não conseguirem atingir a expectativa de Alex na primeira vez que ele tentou compor esse trabalho.
  A partir daí montar esse espetáculo será um terrível encontro com os fantasmas passados desses três dançarinos que deixaram assuntos mal resolvidos entre si na época, e terão que se resolver se quiserem que o amor à dança vença esses impasses. Mas vencê-los não será fácil. Chrissa sofreu crises de estresse a ponto de ser internada, Max era quem cuidava dela, mas o seu grande amor e pai de sua filha, Travis, simplesmente era indiferente a ela e não entendia porque Lindh foi embora. Além de problemas pessoais mal resolvidos, há a problemática de Travis, que machucou seriamente seu joelho e isso dificulta sua performance nos palcos. O nosso herói da estória terá muitas dificuldades com isso, o que dificultará ainda mais a ele se entender com a personagem de Lisa Niemi, pois nossa heroína encontra qualquer defeito para piorar a crise entre eles.
  Casados na vida real e separados na ficção, Patrick e Lisa tem suas atuações e performances como dançarinos em "One Last Dance" bastante impressionantes e deslumbrantes. Diria mais mesmo que as performances dos dois dançando, é que garantem a eles esses adjetivos. Nosso outro herói, George De La Pena (Max Delgado), também atende às expectativas com sua personagem em plenos 30 anos de carreira, em estágio decadente, que para se sustentar continua dançando em escolas de dança menos valorizadas e bem ruins.
  As sequencias coreográficas presentes no filme são de uma técnina magnífica. Excelentes execuções, até os figurantes que têm de fingir que não decoraram os movimentos ainda, mesmo assim os dançarinos fazm muito bem as coreografias. Destaco aqui a cena em que as personagens Travis e Chrissa, depois de brigarem por quase toda a extensão do longa, finalmente resolvem discutir a relação a fim de se acertarem. Ou ao menos tentarem isso. Enfim, a discussão deles não haveria de ser feita melhor no filme do que com um "pax de deux" entre eles. Isso mesmo! Eles têm a famosa 'DR' dançando. A fotografia nessa hora, juntamente com a iluminação cênica, entram em tanta harmonia com a semiologia, que transformam desses minutos dançantes, entre brigas e entendimento, um momento único de deslumbramento de entorpecer qualquer um, por mais que não entenda nada de dança e sobre dança. A iluminação trata de dar à cena tons azuis, negros e cinzas que per passam a insegurança, o nervosismo, o medo, a passividade dos dois, a raiva, a tristeza, a dor, a melancolia, a angústia, a intriga, a renúncia, ao desânimo, ao passado, ao aborrecimento, ao afeto, a fidelidade, o amor, aos sentimentos mais profundos que os dois sentem. Tudo isso com um baú de cor vermelha, que vem significar a força, a energia, a revolta, ao movimento, a coragem, a intensidade, a paixão, a glória, ao vigor, ao calor, a violência, a dureza, a excitação, a dureza, a ira, a emoção, a ação, a agressividade, a extroversão e a sensualidade que envolve ambos nesse misto de amor e ódio ressentidos.
  "One Last Dance", produzido em 2003, tem direção e roteirização de Lisa Niemi, direção de fotografia de Bert Dunk A.S.C, C.S.C., direção de arte de Rejan Labrie, música de Stacy Widelitz, coreografias de Alonzo King, Dwight Rodhen (interpreta no filme a personagem Carlos Chason), Patsy Swayze e Doug Varone. O filme foi inspirado na peça "Without A Word" criada e dançada por Patrick Swayze, Lisa Nieme e Nicholas Gunn, e tem duração aproximada de 92 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
- BASTOS FILHO, Heliodoro Teixeira.; FARINA, Modesto. e PEREZ, Clotilde. Psicodinâmica das cores em comunicação. 5a edição revista e ampl. Edgar Blücher, 2006. São Paulo, SP.
DANGER, Eric P. A cor na comunicação. SÁ, Ilza Marques de. (tradução). Forum Editora LTDA., 1973. Rio de Janeiro, RJ.
GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. 3a edição. Annablume, 2004. São Paulo, SP.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A guerra está declarada.


  E o nosso filme da vez é "Bastardos Inglórios" do famoso diretor Tarantino.
  O filme menciona três estórias. São elas, a ocupação nazista e suas conseqüências; a "Operação Koni", que é liderada pelo Serviço Secreto dos EUA, que se utilizam de alemães refugiados nesse país a fim de matar Hitler (Martin Wuttker) e terminar com a guerra. Quem comanda a operação na Alemanha é o tenente Aldo Rayne (Brad Pitt). E a ultima é sobre uma judia chamada Shosanna (Mélaine Laurent), uma judia que viu sua família ser morta a comando do coronel Hanz Landa (Christoph Waltz), e como consegue fugir, ela resolve se vingar. É quando tem a oportunidade perfeita de executar seu plano, ao ter a chance de exibir, em seu cinema, a première do documentário "O Orgulho da Nação",  que teria a presença de Hitler e seus principais subordinados nessa exibição.
  A operação Koni, como foi dito, tem seu líder como o tenente Rayne, e junto a ele existem seus fiéis escudeiros. O sargento Hugo Stiglitz (Til Schweiger), o PFC Smithson Utivich (B. J. Novak), o major Donny Donowitz, chamado de "Urso Judeu" (Eli Roth), o CPL Wilhelm Wicki (Gedeon Burkhard), entre outros. Eles são chamados de o "Exército dos Bastardos". Todos eles têm a missão de matar Hitler e portanto, acabar com a guerra. Junto a eles há a atriz Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger), uma alemã, com a mesma finalidade deles, que trabalha para o Serviço Secreto dos EUA.
  Em contrapartida, o soldado Frederick Zoller (Daniel Brühl) conhece Shosanna, que a essa altura chama-se Emanuelle Mimeux, e se apaixona por ela. Como a garota é dona de um cinema, Zoller tem a brilhante idéia de que ao coronel Joseph Goebbels (Sylvester Groth) que estreie seu documentário, "O Orgulho da Nação" lá mesmo. Esse documentário narra a saga, dita heróica pelos nazistas, do soldado Frederick que matou cerca de 220 soldados norte americanos de uma só vez. E é com o consentimento do coronel Goebbels, que Shosanna tem a ideia de aproveitar a situação para se vingar dos alemães nazistas, vingando a morte de sua família e todos os judeus mortos durante a guerra. Porém, tanto os responsáveis pela Operação Koni, como também Shosanna não tinham idéia que ambos estava trabalhando pelo mesmo motivo, portanto não há relação alguma entre eles quanto aos ataques.
  O coronel Landa prende Rayne, por ter descoberto o plano da operação Koni, e grava uma mensagem em que menciona ser um agente duplo que trabalhava em prol do SSS dos EUA, tentando assim manter a sua integridade física e dos seus soldaods também. Esse ato dele é justificado, pois caso os ataques ocorram, ele continuaria vivo e livre. O problema é que Rayne não manteve sua palavra, matando o soldado que acompanhava Landa e, posteriormente, marcando na testa de Hanz o famoso símbolo do nazismo, a suástica, para que jamais fosse esquecido o mal que o coronel provocara aos judeus.
  Começo falando que em mais esse filme a presença da influência Bretchiniana existe pela presença de um narrador, embora narre apenas algumas situações necessárias para que o telespectador compreenda as motivações pelas quais os integrantes do exército dos Bastardos, e até a própria Shosanna, tenham sua vingança justificada. A quebra da "quarta parede" tem sido bem frequente nos filmes que têm sido discutidos nesse blog.
 Destaco a atuação de Christoph Wantz, ganhador do Globo de Ouro de 2010 de Melhor Ator Coadjuvante, do Oscar de 2010 também por Melhor Ator Coadjuvante, o prêmio de melhor ator de 2010 no Festival de Cannes, ou seja ele levou para casa os principais prêmios dos festivais de cinema pelo mundo. Não há palavras, ao certo, para definir a brilhante atuação dele. Deixo que vocês, leitores, ao assistirem o filme, tirem suas próprias conclusões Tudo bem, me arrisco a encontrar um adjetivo, talvez o que mais defina, a atuação dele. Diria que a atuação dele é completa. Uma pena o filme não ter levado para casa o Oscar de Melhor Roteiro Original. Seria uma premiação bastante justa.
  Quanto às demais atuações, elas contribuem com total competência para essa obra prima de Tarantino. Wuttker, Pitt, Groth, Kruger, Roth, Novak, Brühl, Schweiger e Laurent estão com atuações primorosas, certeiras, concretas, objetivas, diretas, sinceras e principalmente, reais. Eles dão um banho de genialidade em suas personagens e trazem ao telespectador os medos, a raiva, o ódio, o desprezo, o pavor, a sede de vingança que cada uma delas tem.
  O que dizer da fotografia do filme? Um pecado. Lógico que no melhor dos sentidos. A direção de fotografia, fez do filme, em seus enquadramentos abertos ou pormenorizados, um tremendo pecado delicioso e saboroso de ser cometido, dando a nós que assistimos um incrível deleite do que é fazer cinema. A trilha sonora, que de acordo com o que li e pelo que conheço dele, deve ter mesmo a presença de Ennio Morricone. Ennio é também o criador da trilha sonora de um clássico do cinema, "Cinema Paradiso". Quem ainda não assistiu, vale a pena procurá-lo para ver. Se a fotografia causa uma incrível aula sobre cinema, a direção de arte, obviamente, tem total parcela de culpa nesse maravilhoso pecado ao norte do Equador. A arte do filme é, simplesmente, magnífica.
  Nesse filme há uma incrível curiosidade. Na cena em que Shosanna se maqueia para a première do documentário de Gobbels, existe toda uma preparação para a 'guerra' que ela declarara aos alemães nazistas. No entanto essa preparação não passa apenas dela se maquiando. O que nos deixa claro a intenção da personagem é a trilha sonora, juntamente com a direção de arte e de fotografia.
  "Inglourious Basterds", produzido em 2009, tem direção e roteiro de Quentin Tarantino, fotografia de Robert Richardson, direção de arte de Stephan Gessler, Marco Bittner Rosser e David Scheunemann. Uma produção em parceria entre os Estados Unidos, França e Alemanha, com duração aproximada de 162 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
http://4.bp.blogspot.com/_gIl4gSEHSMw/SwRyLTdQLTI/AAAAAAAAACc/F9wXhA5yvmU/s400/Bastardos+Ingl%C3%B3rios+-+Shosana+3.jpg
http://www.omelete.com.br/cinema/critica-bastardos-inglorios/
http://www.adorocinema.com/filmes/bastardos-inglorios/
http://www.cinepop.com.br/filmes/bastardosinglorios.htm
http://cinema.cineclick.uol.com.br/filmes/ficha/nomefilme/bastardos-inglorios/id/15834
http://www.portaldecinema.com.br/Filmes/bastardos_inglorios.htm

domingo, 2 de janeiro de 2011

A Bolha Palestina.


  O filme para hoje é "Há-Buah", que em inglês chama-se "The Bubble" e em português ficou "A Bolha".
  O filme narra a vida de quatro jovens. Noam (Ohad Knoller) que acabara de voltar do fronte, onde conhece Ashraf (Yousef 'Joe' Sweid) que tenta entrar em Israel, e ambos se apaixonam um pelo outro. Lulu (Daniela Virtzer), uma jovem israelense que trabalha em um loja de sabonetes e divide apartamento com Noam e Yelli (Alon Friedman), este ultimo trabalha em um café e se apaixona por Golan (Zohar Liba), um rapaz homossexual que discrimina os próprios homossexuais e se intitula "não gay" por manter uma pose de heterossexual.
  Ohad Knoller dá vida a Noam de uma forma sutil, delicada e vívida. Sua personagem volta da guerra, em que lá conhece Ashraf, e retoma sua vida cotidiana até que recebe, inesperadamente, a visita da personagem de Yousef 'Joe' Sweid. Diria que Ohad sustenta muito bem o filme por completo. O ator que vive Ashraf, ironicamente até lembra o ator brasileiro Roberto Bomtempo, mas enfim, ele interpreta um rapaz homossexual, filho de uma das mais tradicionais famílias da Palestina, que se apaixona por um israelense e se vê na penúria de viver clandestinamente no país do seu namorado e manter sua opção sexual escondida de sua família. No entanto seu futuro cunhado Jihad (Shredi Jabarin), que se casará com sua irmã Rana (Ruba Blal), descobre seu segredo, mas promete calar-se caso Ashraf venha a se casar com sua prima.
  A atriz que interpreta Lulu, faz de sua personagem uma pessoa bastante sociável, divertida e defensora dos seus amigos, sem esquecer que é também bastante defensora dos seus direitos. Ou seja, padrões muito bem atuados de acordo com a preferência do diretor para essa personagem. Alon Friedman, que faz Yelli, segura muito bem as pontas com a sua personagem. Apaixonado por Golan, vive a jornada de conquistar o seu amor e manter também sua sexualidade escondida de sua família. Noam, Lulu e Yelli são três bons amigos, que se ajudam, seja ao dividirem as despesas da casa, ou em que cada um cuida do outro.
  A fotografia do filme, juntamente com a direção de arte, trazem ao filme o medo que paira nas disputas religiosas entre Israel e Palestina, através do foco central nas cores cinza e branco, que retratam muito bem essa coisa gélida e sem esperança que cercam os habitantes desses dois territórios. A tonalidade do filme só é quebrada nas cenas do café em que Yelli trabalha, no apartamento dos três amigos e principalmente nos figurinos que que os atores Ohad Knoller, Daniela Virtzer e Alon Friedman usam.
  "Há-Buah" foi produzido em 2006, com parceria entre a França e Israel, tem direção de Eytan Fox, roteiro de Eytan Fox e Gal Uchovsky, fotografia de Yaron Scharf, música de Ivri Lider, embora tenham sido acrescentadas duas músicas da cantora Bebel Gilberto, são elas "Aganju" e "Cada Beijo", para as cópias que foram distribuídas no Brasil. A duração do filme é de aproximadamente 114 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

sábado, 1 de janeiro de 2011

E esse pai, hein?


  O filme escolhido para o primeiro dia do ano de 2011 é "The Kids Are All Right", ou chamado em português de "Minhas mães e meu pai".
  Recomendado por meus amigos, resolvi assistí-lo e agora escrever minhas impressões sobre ele.
  A película conta a estória de um casal de lésbicas, Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), que são mães de Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson).
  Joni ao fazer 18 anos, a pedido do seu irmão, resolve investigar quem seria o responsável pela doação de sêmen às suas mães, que resultou no nascimento deles dois. Após contatar o banco de sêmen, responsável pela doação, descobrem o paradeiro de Paul (Mark Ruffalo), que é o tal pai desconhecido. E então Joni e Laser resolvem ir atrás da parte paterna dos dois. Vale esclarecer que cada que cada mãe, pariu um filho.
  Paul adentra a vida da família de Nic e Jules e já causa rebuliço na casa. A começar que Nic percebe as indiretas de Paul para Jules ao contratar sua esposa para cuidar do jardim que ele tem em seu restaurante. Como se não bastasse isso, já tinha capturado também a afeição das duas crianças, o que faz Nic, e claro também Jules, sentir ciúmes dessa aproximação repentina.
  E é nesse envolvimento, meio que profundo demais, que Jules começa um romance com Paul. O que mais tarde será descoberto por Nic, e então a vida das duas virará um inferno.
  Em paralelo a isso, existem as estórias de Joni, que completara 18 anos e está indo para a universidade, e Laser, um garoto de 15 anos que se envolve com a má companhia de seu amigo Clay (Eddie Hassel), viciado em cocaína.
  Pois bem, o filme é realmente um tédio. Monótono em seu desenrolar, parece que nunca segue a diante. É como se sempre voltasse três passos para trás e caminhasse um à frente. O filme só começa a andar de fato quando Nic descobre a traição de Jules. A trilha sonora é meio chatinha e parada também. Assim como a fotografia, que só se destaca no enquadramente em que Jules (Julianne Moore) está deitada no sofá e resolve conversar, sobre o ocorrido da traição, com seus filhos durante a madrugada. Eis aí um tom azulado na filmagem, que denota toda a passividade, medo, angústia, arrependimento que a personagem tem sentido sobre Nic e seus filhos.
  Annette está bem em seu papel. A poderosa chefona da família, insensível, que vive uma terrível insegurança ao perceber as investidas de Paul em Jules, embora completamente apaixonada por sua esposa. Julianne Moore é a esposa mais sensível, amorosa, que procura sempre entender as crises existenciais de seus filhos, por mais que venha a começar um romance com o pai das crianças. Mia Wasikowska é uma jovem revoltada por ter duas mães, viver em uma família gay, que ao encontrar o pai vê na figura dele um exemplo a ser seguido, mas ao descobrir que sua outra mãe tem um caso com ele, fica desbaratinada. E Josh Hutcherson, faz Laser, 15 anos de idade, descobrindo a vida, louco de desejo por descobrir quem é o pai, mas que inicialmente se frustra pela presença paterna ser fora do que imaginara. Por fim temos Raffalo, que faz Paul, um cara com seus quarenta anos que descobre do nada ser pai de dois garotos, que o deixa bastante atordoado e sem saber como agir. Mas tenho de confessar, que aos meus olhos quem segura o filme mesmo são Annette Bening e Julianne Moore.
  Temos notoriamente alguns erros de continuidade. Primeiro momento quando Paul recebe o telefonema do banco de sêmen dando a notícia que Joni estava a procura do seu pai. E o segundo momento é quando Nic oferece um almoço para que a família conheça quem é Paul. Temos aí várias situações de garrafas de água abertas em um take e no seguinte estarem fechadas, das garrafas e taças de vinho em locais diferentes em takes sequenciais, de braços e afins também em posições diferentes.
  "The Kids Are All Right", produzido em 2010, tem direção de Lisa Cholodenko, roteirização de Lisa Cholodenko e Staurt Blumberg, direção de arte de James Pearse Connelly, tem duração aproximada de 107 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências: