sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A espera do homem perfeito.


  O filme escolhido para encerrar o ano é o mais novo de Woody Allen. "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos" que inglês recebe o nome de "You Will Meet a Tall Dark Stranger".
  Ele conta a estória de Helena (Gemma Jones) que acaba de se separar do seu marido Alfie (Anthony Hopkins) e desesperada resolve pedir ajuda a uma falsa vidente, interpretada pela atriz Pauline Collins, que servirá apenas para dizer o que a ex-senhora Alfie deseja ouvir. Já Alfie, é um senhor de 70 anos que se comportar como se tivesse 40 anos a menos. Não é a toa que se envolve com Charmanie (Lucy Punch), uma garota de programa pela qual ele se apaixona e resolve casar com ela, para tirá-la dessa vida. Alfie e Helena tiveram dois filhos, embora só sua filha Sally (Naomi Watts) esteja viva. A personagem de Naomi é casada com Roy (Josh Brolin), um escritor fracassado e que insiste em continuar seguindo essa carreira.
  Roy se apaixona por Dia (Freida Pinto), sua vizinha de verão e que a adota como sua musa inspiradora. Sally, formada em Artes e especializada em História da Arte, resolve começar a trabalhar para sustentar sua casa, já que depende de sua mãe. Ela vai trabalhar na galeria de Greg (Antonio Banderas) e acaba se apaixonando por seu novo patrão. O dono da galeria por sua vez, com problemas no casamento, acaba se envolvendo com uma artista plástica que é amiga e protegida de Sally. Enfim, é nesse emarenhado de romances desfeitos, prestes a acabar e novos outros começando que o novo Woody Allen se ambienta na Inglaterra.
  É possível notar alguns erros cometidos durante a estória. Roy descobre que dois grandes amigos seu, de noitadas a base de bebida e muito poker, sofrem um acidente, sendo que um morre e o outro está em coma. Ele se quer foi ao velório ou enterro do amigo morto. A amante de Greg usando brincos de pérola tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo, em sua casa justamente na hora em que Sally a visita. Fica claro que ela usava os brincos de propósito quando Sally foi vê-la, no entanto comenta de maneira despretensiosa sobre o caso que está tendo com Greg. E por ultimo um tremendo erro de continuidade. Ou melhor, vários erros seguidos na sequencia em que Chamaine está na academia com o pé torcido e um colega de academia chega e começa a massagear o pé dela. Ele aproveitando-se da situação, passeia com sua mão nas pernas da garota. A cada take feito nessa cena, a mão dele ou a perna dela encontram-se em posições diferentes do take anterior. Uma lástima Woody Allen ter consentido que essa cena fosse posta no filme desse jeito.
  Anthony Hopkins e Gemma Jones estão engraçadíssimos e fabulosos em suas interpretações. Ele um garanhão de 30 anos em plenos 70 de idade e ela uma senhora desnorteada e atrapalhada por ter sido abandonada pelo marido depois de 40 anos de casados. Naomi Watts e Josh Brolin também estão bem em seus papéis de uma esposa que vive as custas da mãe por que o marido não arranja um emprego, além de ser recusada por sua nova paixão, o Greg. E ele, com seus quase 50 anos insistindo em querer ser escritor, embora decadente, que se apaixona por sua vizinha de veraneio. O fato de Sally e Roy terem se apaixonado por outras pessoas, faz com que o casal se divorcie. Pauline Collins está hilariante na pele da falsa vidente que aconselha Helena em suas desventuras pós-separação. E a atriz Lucy Punch, que me perdoe, mas sua personagem está parecendo na verdade um travesti que acabou de fazer a cirurgia de troca de sexo. Ela está muito bizarra na pele de uma garota de programa que se casa pelo dinheiro do marido.
  Há no filme a presença do narrador-personagem como agente da estória, em que conta o que aconteceu e o que acontece na vida de cada uma das personagens, justificando suas atitudes. Ou seja, mais um filme em que sofre influência direta do Teatro Épico de Bertholt Brecht. A fotografia, juntamente com a direção de arte, fazem do filme uma coleção primorosa de bons efeitos, bons cenários, sem entediar a visão do telespectador, como pode ser visto em "Vicky Cristina Barcelona", outro Woody Allen, que praticamente toda a fotografia é composta por um alto teor cítrico, embora haja sim, um sentido para isso.
  "You Will Meet a Tall Dark Stranger" ou melhor, "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", produzido em 2010, tem direção e roteirização do próprio Woody Allen, com direção de arte de Dominc Masters, direção de fotografia de Vilkmos Zsigmond, e duração aproximada de 98 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

PS: Desejo a todos uma excelente virada de ano e que 2011 seja repleto e bem recheado de bons momentos em suas vidas. Obrigado e até o ano que vem!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma luz no escuro.


  Ao criar esse blog, não poderia deixar de lado meus filmes prediletos. E hoje falo sobre um deles, "Dancer In The Dark" estrelado pela cantora Björk.
 O filme conta a estória de Selma Jezkova (Björk), uma jovem mãe, natural da Tchacoslováquia, prestes a ficar cega, que batalha diariamente para juntar uma quantia em dinheiro a fim de pagar a  cirurgia do seu filho, o pequeno Gene Jeskova (Vladica Kostic), que sofre com o mesmo problema de visão dela. Tudo isso sendo contado em forma de musical.
  Chegando aos EUA, Selma foi recebida pelo casal Linda e Bill Houston, Cara Seymour e David Morse respectivamente. E é justamente Bill Houston que transforma a vida de Selma em um inferno. Afogado em dívidas, ele resolve revelar esse segredo para a pobre imigrante, que em troca da confiança conta estar ficando cega. Aproveitando isso, ele descobre onde Selma guarda suas economias para a operação do seu filho e rouba todo o dinheiro.
  Quando descobre que foi roubada, Selma vai a casa dos Houston e pede para falar com Bill. Mas ao chegar, Linda começa a acusá-la de seduzir seu marido. Ao encontrar com o marido da senhora Houston, Selma pede que devolva seu dinheiro e recebe uma resposta negativa. Durante a discussão, Bill afirma que só devolverá o dinheiro se sua inquilina matá-lo. Pronto. Toda a vida de Selma revira de cabeça para baixo, com esse acontecimento, culminando na tragédia final do enredo.
  Ao seu favor, Selma tem a amiga Kathy (Catherine Deneuve) e o apaixonado Jeff (Peter Stormare). Kathy trabalha na mesma fábrica da amiga imigrante e junto a ela dividem o sonho da mãe de Gene, que é fazer um musical. Sim, a matriarca Jezkova é apaixonada pelos musicais norte-americanos e por isso resolve fazer teatro. Já Jeff é apaixonado por nossa heroína e tenta conquistá-la o tempo todo.
  Björk, embora cantora, realizou um trabalho expecional, dentro do padrão que o diretor do filme, Lars Von Trier, trabalha. A estrela principal faz o telespectador entrar em catarse, sentindo os anseios, dores, perigos e esperanças que nossa personagem principal passa. Além de passar a mensagem de que por mais que sua vida dê errado, coisas aconteçam impedindo seus planos, não desista. Como a própria personagem Selma fala, tem de se acreditar apenas no amor. É justamente pelo amor ao seu filho, que ela não aceita o advoagdo contrado por Kathy, já que os honorários seriam pago com a quantia que juntou para a operação do pequeno Gene, e desiste de lutar para obter uma nova sentença judicial.
  Catherine Deneuve, chamada por Selma de "Cvalda", ou seja, uma pessoa grande e feliz, é uma senhora, aparentemente solteira, que ajuda sua amiga em suas limitações obtidas pela cegueira, e atendo aos desejos da heroína da estória. Peter Stormore faz um apaixonado devoto, sem nenhum tipo de psicopatia desenvolvida, já que não é aceito por nossa personagem principal.
  Cara Seymour e David Morse, por mais que suas personagens sejam fundamentais para o destino sofrido de Selma, executaram muito bem suas obrigações no filme. Ela, uma esposa devota e fútil que se engrandece por um dinheiro que seu marido herdou. Ele, um ex-rico por ter gastado todo o dinheiro herdado, cheio de dívidas, com desejos de morte, embora seja covarde para cometer suicídio, obrigando Selma a cometer, o que poderia ser chamado por mim de, um suicídio induzido, o que a leva para a cadeia.
  Lars Von Trier, como sempre, executa um fabuloso trabalho de direção, com técnicas de interpretação, arrisco dizer que seria a técnica da exaustão, além de se utilizar do recurso da câmera na mão, que contribui para enfatizar a instabilidade psicológica da personagem principal diante dos seus problemas. Nesse estilo de filmagem ele se inspira em Sergei Eisenstein e sua Montagem Dialética. Essa montagem é um "(...) princípio faz com que se evidenciem ainda mais as questões dos planos pormenores e da tensão causada tanto por esse tipo de enquadramento, como também pela movimentação para frente e para trás do profissional que grava as cenas, já que esse ato perpassa insegurança, medo, nervosismo, ansiedade e preocupação, sensações que são necessárias nesse processo dialético de filmagem." (TETI JÚNIOR, 2010:12). Como Selma tem um incrível amor por musicais, Lars Von Trier conta sobre a saga da vida dela através de canções. Pois por não enxerga praticamente nada, ela apura sua audição, e através dos sons que escuta imagina como se sua vida fosse um verdadeiro musical norte-americano.
  A trilha sonora orginal foi composta pela própria Björk. Músicas lindas, com letras e arranjos tocantes.
  "Dancer In The Dark", produzido em 2000, tem direção e roteirização de Lars Von Trier, com trilha sonora de Björk e composição das letras de Lars Von Trier e Sjón Sigurdsson, operação de câmeras de Lars Von Trier, coreografias de Vicent Paterson, direção de arte de Peter Grant, com duração aproximada de 135 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
- TETI JÚNIOR, Ricardo Falcão. Análise da iluminação, a partir do Teatro de Brecht, no filme "Dogville". SAMPAIO, José Roberto Santos. (orientação).
  

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nos braços de Tolstoi

  Quando coloquei "The Last Station" (A Ultima Estação) para assistir, não sabia que tratava-se dos ultimos momentos de vida de Leo Tolstoi (Christopher Plummer). Apenas foi pela admiração à atriz Helen Mirren (Sophie Tolstoi). E confesso que acabei me surpreendendo com a história de vida desse escritor, como também de sua esposa.
  O filme aborda a incansável luta de Sophie Andreyevna (Sophie Tolstoi) para que o seu marido não abdicasse da riqueza de sua família em defesa do movimento Tolstoiano, movimento esse que pregava a caridade aos pobres, deixando todos os seus parentes na miséria. Toda essa briga entre o casal é gerada pela possível assinatura de um testamento em que o conde Tolstoi deixaria toda a sua riqueza para o grupo Tolstoiano, esquecendo de dar o suporte financeiro necessário aos que vivem com ele.
  A favor da condessa Sophie, esteve apenas o mais novo secretário de Leo Tolstoi, o jovem Valentin Bulgakov (James McAvoy), que foi contratado por Vladmir Chertkov (Paul Giamatti) a fim de anotar tudo que acontecesse na mansão Tolstoi e que pudesse servir de provas contra a condessa e a favor do movimento Tolstoiano, para que o seu fundador seguisse à risca os seus postulados.
  Contra Sophie Andreyevna, estavam sua própria filha, Sasha Tolstoi (Anne-Marie Duff) e o próprio Vladmir Chertokov. Ambos defendiam a plena legalidade dos ensinamentos que Leo Tolstoi sempre pregara a favor do proletariado.
  Confesso que inicialmente o filme esteve um tédio. Na verdade por quase toda a sua duração. Mas a atuação de Helen Mirren, passa a convencer o telespectador a assistí-lo até o fim. Certo, que Helen, diferente de sua atuação em "The Queen" (A Rainha), o qual deu a ela o Oscar de Melhor Atriz em 2007, estava inicialmente também um pouco intolerável em seu papel. Bastante caricata. Mas a partir da cena em que Sophie descobre que o novo testamento a ser assinado está sendo arquitetato e que todos em sua volta escondem dela, sua atuação passa merecer destaque. E daí em diante, a incrível atriz se encontra no filme e nos dá um banho de interpretação. Creio que é a partir desse momento que lhe rendeu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz no corrente ano. Porém, particularmente, a estatueta não deveria ser mesmo dela. Isso não significa dizer que concorde com a escolha desse ano.
  O ator Christopher Plummer, esteve impecável no papel do decidido e digno fundador do movimento Tolstoiano. Ele representou muito bem a dualidade entre defender sua ideia e amar incondicionalmente a sua esposa. Nos deu uma incrível visão do que pode ter sido para o escritor viver sob essas duas pressões.
  A atriz Anne-Marie Duff, consegue convencer sua idolatria ao pai e sua aversão à mãe, quanto a lutar com unhas e dentes pelos ideais paternos. James McAvoy, vive a terrível dúvida de atender aos desejos do seu ídolo, ou aos da senhora Tolstoi, por quem tem um incrível apreço e por entender o desespero dela. Paul Giamatti, como em uma boa parte de seus papéis, ele encarna o mão-de-ferro Vladmir Chertkov, melhor amigo do conde Tolstoi e detestado pela condessa Andreyvna.
  "The Last Station", produzido em 2009, tem direção de Michael Hoffman, roteiro de Michael Hoffman e Jay Parini, direção de arte de Erwin W. Prib e duração aproximada de 118 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
  

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E o cisne voou.


  Quando descobri a existência do filme "Black Swan", ao assistir o trailer, tive todos os motivos do mundo para condená-lo já que aparentava distorcer a estória de "O Lago dos Cisnes". Mas ainda bem que existe a redenção e posso então falar que ele me encantou do início ao fim, querendo entender os delírios de Nina Sayers (Natalie Portman).
  O filme conta a estória de Nina Sayers, uma bailarina clássica, que vive na cidade de Nova Iorque, e almeja alcançar o papel principal da nova montagem de "O Lago dos Cisnes" da companhia em que trabalha. Pois bem, até aí seria um enredo normal como outro qualquer, se não fosse o mundo obscuro que rodeia nossa personagem principal. Nina, aparentemente, sofre de alucinações, mania de perseguição e auto mutilação, sem esquecer claro de um problema bastante comum no mundo das bailarinas, a bulimia.
  A atriz Barbara Hershey vive a mãe de Nina, a senhora Erica Sayers. Uma mulher com seus quase 50 anos que teve de abdicar da vida de primeira bailarina da mesma companhia em que sua filha participa, para poder ser mãe. Carrega consigo a frustração pelo abandono da carreira profissional, embora ame fervorosamente sua cria. Além disso, sofre com os problemas psicológicos da garota.
 Nina, com suas alucinações e delírios, conhece Lily (Mila Kunis), outra bailarina da companhia bastante parecida com ela. E então em sua mente atordoada, a senhorita Sayers começa sentir-se perseguida por Lily. Tudo isso, pois a personagem de Natalie Portman, crê que sua colega de companhia deseja tomar dela o papel principal daquele repertório de Ballet Clássico.
  O ator Vicent Cassel vive Thomas Leroy, o diretor artístico da montagem, que tenta seduzir Nina de todas as formas para que sua bailarina consiga interpretar o cisne negro tão bem quanto faz com o branco. Já que ele afirma que Sayers tem a fragilidade de Odette, o cisne branco, mas não a sedução e astúcia de Odille, o cisne negro. O enredo segue adentrando a estória do repertório a ser contado e como isso afeta a vida da jovem Nina Sayers.
  Natalie Portman está deslumbrante no papel de Nina. Sua preparação corporal seja para interpretar uma jovem ansiosa por seu futuro e que desenvolve um distúrbio mental que a faz acreditar viver realmente uma história semelhante à que viverá nos palcos como Odette e Odille, seja como também para convencer como uma bailarina nata. Ela executa os dois lados da personagem com uma sutileza incrível de movimentos físicos, até mesmo os mais bruscos. Mila Kunis em sua incrível semelhança com a atriz principal, transpõe toda a força e sedução da personagem Odille em O Lago dos Cisnes, para a vida de Nina, fazendo com que a garota se afunde ainda mais em seus delírios. Barbara Hershey e Vicent Cassel estão fabulosos em seus papéis. Ela, uma mãe desnorteada por uma frustração profissional e desesperada por curar as loucuras da filha. E ele, um professor e diretor bastante exigente, que se usa de artifícios não tão corretos, para que sua primeira bailarina encarne realmente as duas personagens da estória. E por ultimo, e de maneira proposital, temos a atuação de Winona Rider, que interpreta Bethy Macintyre, a ex-primeira bailarina da companhia que acabara de perder o papel principal, por estar velha e a companhia precisar de mulheres mais novas. Bethy ao ser recusada pela companhia, contribui para a loucura de sua rival, infernizando muito bem a vida de Nina.
  O início do filme se dá durante um sonho de Nina, meio que um prenuncio do que ocorrerá a jovem. Ela sonha consigo própria dançando a variação, ou seja, uma sequência de movimentos, do cisne branco com o vilão da estória que começa a perseguí-la. Nessa hora temos uma iluminação predominantemente verde, que pode ser traduzida pela personalidade dualista da garota. Que varia entre a apatia, causada pelo azul que é presente na cor verde, e a agressividade da cor vermelha. Embora não haja vermelho na junção que resulta na cor verde, temos o amarelo que é uma cor presente na família das cores quentes, a qual a cor vermelha é o carro chefe. Temos também excelentes enquadramentos da filmagem, enquanto são gravadas as cenas em que todos os bailarinos da companhia ensaiam as coreografias. E destaco principalmente as filmagens do ultimo ato de O Lago dos Cisnes.
  A trilha sonora do filme é a mesma usada no repertório, cuja autoria é do maestro Piotr Ilyich Tchaikovsky, com adaptação de Clint Mansell e Matt Dunkley. Adaptações bem apropriadas, sem destruirem a obra principal.
  "Black Swan", produzido em 2010, tem direção de Darren Aronofsky, roteiro de John McLaughlin, direção de arte de David Stein, e fotografia de Matthew Libatique. O filme tem duração aproximada de 108 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A oportunidade de uma, é o "erro" da outra.


  Quando encontrei o filme "Notas sobre um escândalo", confesso que o comprei mais pela afeição a Blanchett, do que pela própria Dench.
   E ao colocá-lo no aparelho de dvd para assistir, confesso que se quer olhei a famosa sinopse na contra capa e me arrisquei a descobri sozinho, qual o enredo do filme.
   Pois bem, nos primeiro minutos da apresentação da equipe de produção e direção do filme, ao avistar Philip Glass como o compositor da trilha sonora original, pensei "A trilha vai ser boa".
   O filme tem desde o início, um excelente roteiro produzido por Patrick Marber, que constrói um enredo concreto e sistemático, obedecendo uma curva dramática, diria que Aristotélica. No entanto, arrisco comentar que tem um elemento Brechtiniano, que é a presença do narrador personagem, quebrando a "quarta parede" interagindo, meio que indiretamente, com o telespectador contando os fatos que estão acontecendo e sugerindo os que já passaram para que seja entendido o comportamento da personagem Barbara Covett (Judi Dench).
   Barbara é uma senhora, talvez septuagenária, que ensina história na escola St. George, conhecida pela moral e bons costumes. E se depara com a chegada de uma jovem professora de Artes, Sheeba Hart (Cate Blanchett), que meio desajeitada e cheia de inovações para o ensino, se vê perdida por não controlar seus alunos.
   Covett, que em suas confidências em seu diário - a presença do narrador personagem, mostra ao telespectador as intenções e atitudes daquela senhora - demonstra aparentemente ter uma admiração tão forte, insinuando no início da película que sua personagem seria lésbica. O que com o desenrolar do enredo ficará claro que Barbara Covett trata-se de uma psicopata carente de afeto, caso conhecido como stalker, que escolhe uma vítima de forma aleatória e se propõe a infernizar a vida daquela pessoa.
   E assim se dá todo o desenrolar da estória a partir de quando Bar descobre que Sheeba tem um caso com um aluno da escola de apenas 15 anos e decide manipular a personagem de Blanchett, imaginando que assim teria a sua amada em seus braços. E Sheeba Hart ao descobrir que Barbara à dedurou, acaba perdendo a oportunidade de denunciar a suposta amiga à polícia por cumplicidade no crime, devido ao apreço que tem com a até então fiel amiga.
   O que falar das atuações de Cate Blanchett e Judi Dench? Seria algo, talvez, repetido, se levarmos em consideração os demais filmes feitos por ambas. Mas não podia deixar de comentar que Dench executa sua atuação primorosamente, mostrando ao telespectador em sua fria fisionomia facial a psicopatia de sua personagem, que parte de uma tremenda carência afetiva, por ser solteira em idade já avançada com medo de morrer sozinha. Blanchett, como sempre, atua também de maneira tão profunda, até mesmo na pele da jovem senhora Hart, uma bela mulher que resolve dar aulas de Artes, depois de 10 anos cuidando do filho com Síndrome de Down, mesmo sem nunca ter entrado em uma sala de aula e uma carreira artística sem muito sucesso. Embora, particularmente, o Hair Stylist tenha pecado um pouco no penteado "pueril" da personagem de Cate Blanchett. Não combinou nem um pouco com o rosto da atriz.
   A fotografia é de um efeito tão cotidiano, o que transparece a realidade, a ocorrência corriqueira do assunto tratado no filme. Destaco dois momentos na película. Exatamente quando Barbara Covett visita pela primeira vez Sheeba Hart, em que ambas estão no ateliê da artista, em que a jovem professora conta toda a trajetória de sua vida, demonstrando a confiança instantânea por Bar. Dentre os minutos reservados a essa cena, alguns segundos merecem o destaque mencionado por mim. É quando em um enquadramento externo do ateliê, o take, nos dá a sensação de uma pintura à óleo, meio distorcida talvez, causada pela chuva que caía naquela tarde festiva para a família Hart. E o segundo é quando o jovem Conolly entrega um anel de presente à Sheeba e que ambos se dirigem o vão embaixo da escada de entrada da casa dela. Nessa hora a tonalidade azul toma conta da tela, o que denota a passividade da sra. Hart ao menino. Isso pode ser notado também pela redução da postura corporal da mesma e portanto a discrepância do tamanho dele para com o dela, que está mais baixa, retraída, perante o garoto.
   Como pensado no início do filme ao ver Glass como autor da trilha sonora, seu trabalho está de fato impecável, transmitindo à quem assiste todas as angústias vividas por Bar Covett e Sheeba Hart.
   A personagem Ben, interpretada pelo ator Max Lewis, discute no filme a importância da inclusão social. E o jovem ator, fez muito bem o seu papel, diga-se de passagem, superando às suas próprias dificuldades.
   "Notes on a Scandall" foi produzido em 2006, com direção de Richard Eyre (diretor de Iris, também estrelado por Judi Dench), roteiro de Marber, trilha sonora de Philip Glass, baseado no conto "What was she thinking?" de Zöe Heller, com duração aproximada de 92 minutos, incluindo os créditos finais.

   Texto: Ricardo Montalvão.

   Referências: