quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Audrey, comece a rezar.


  E o filme escolhido para hoje é "The Nun's Story" que em português se chama "Uma Cruz À Beira do Abismo" com a nossa querida Audrey Hepburn.
  Gabrielle Van Der Hall (Audrey Hepburn) decide entrar para o convento Casa Mãe da sua cidade natal, Bruxellas. Seria mais uma estória comum de filmes que falam de futuras freiras. Mas Gabrielle, que após entrar para o convento passa a ser chamada de Irmã Luke, sofre bastante com todas as regras de uma vida religiosa. Ela não pode falar com as outras Irmãs. Uma restrição ao som que vai até mesmo aos seus pensamentos. A congregação do convento Casa Mãe, creio eu que deva ocorrer isso mesmo em conventos não fictícios, prega a destruição do orgulho e amor próprio, em favor da humilhação e humildade. E isso se torna uma tremenda dor de cabeça para a nossa heroína.
  A princípio ela toma a decisão de se dedicar a Deus, por admiração a uma das freiras do convento. Mas principalmente também com o desejo de se tornar uma Irmã enfermeira a fim de ser transferida para o Congo e poder exercer a função que aprendeu com seu pai, o famoso médico Dr. Van Der Hall (Dean Jagger). Após passar por várias provações em busca da humildade, Gabrielle, ou melhor dizendo a Irmã Luke, é mandada ao país do Congo. Porém, ao invés de ser escalada para trabalhar no hospital nativo, ela foi designada a exercer a função de enfermeira no hospital dos europeus. E lá ela conhece o Dr. Fortunati (Peter Finch), com quem adquire mais conhecimento em enfermagem, tornando-se a melhor auxiliar do cirurgião, feito pelo ator Finch.
  Ela acaba retornando à Bélgica, pois acabara de estourar a II Guerra Mundial, e era necessário alguém com tamanha experiência que nem ela. Com esse retorno, todos os questionamentos e tormentos que perseguiam nossa personagem principal, voltam a atordoá-la. Fazendo com que ela fique entre a cruz e a espada. Abandonar ou não o hábito.
  A, conhecida com personagens ditas estonteantes, atriz Audery Hepburn encarna um papel altamente profundo, saindo dos clichês pelos quais é conhecida nos filmes "Breakfast at Tiffany's" (Bonequinha de Luxo), ou "My Fair Lady" (Minha Querida Dama). Embora ela tenha feito muitos outros filmes, destaco "The Children's Hour" (Infâmia). Assistir Hepburn atuando é algo fenomenal. Algo em que você se curva para reverenciá-la por sua atuação. Ela dá vida à Irmã Luke mostrando, claramente, todos os medos, angustias, receios, enfim, toda a instabilidade psicológica que sua personagem vive entre continuar ou não sendo uma freira. Não tem como começar esse filme e não terminá-lo em uma unica sentada em frente à televisão. É uma atuação sem palavras, e isso falo com toda sinceridade. Mesmo depois de 50 anos de produção, ela põe, nesse filme e nos demais, qualquer atriz no chinelo. Ela desbanca até mesmo a minha querida e estimada Meryl Streep. Uma lástima, desde 1993, Audrey não estar mais entre nós. Mas como dizem por aí "Estrela não morre, apenas sai de cena".
  A direção de arte e cenógrafo dão um banho de estilo em suas construções para o filme. Ora grandes painéis pintados obedecendo a lei da perspectiva, ora com cenários reais, é um trabalho extremamente fabuloso. A direção de fotografia, então nem se fala. A atuação de Audrey, sem esquecer dos demais atores, e os enquadramentos pormenorizados ou abertos, traduzem para o telespectador de forma bem clara o quanto cheia de recusas é a vida religiosa. Não estou aqui desmerecendo a religião católica, que fique bem claro. A cenografia, com direção de arte e fotografia não teriam o mesmo efeito psicológico se não fosse a maravilhosa trilha sonora instrumental do filme. Ah! Não se pode esquecer do excelente trabalho de envelhecimento da querida Hepburn.
  O filme recebeu várias indicações nos principais festivais de cinema da época, recebendo no Festival Internacional de Sán Sebastian o Prêmio Concha de Ouro para Fred Zinnemann, e o Prêmio Concha de Prata de Melhor Atriz para Hepburn. Na Academia Britânica de Cinema e Televisão, o Prêmio de Melhor Atriz Britânica também para Audrey Hepburn. E no Círculo dos Críticos de Cinema de New York, os prêmios de Melhor Diretor para Fred Zinnemann e, mais uma vez, Melhor Atriz para a intérprete da Irmã Luke.
  "The Nun's Story" (Uma Cruz À Beira do Abismo), baseado no livro de Kathryn Hulme, foi produzido em 1959, com direção de Fred Zinnemann, roteiro adaptado de Robert Anderson, direção de arte de Alexandre Trauner, fotografia de Franz Planer, música de Franz Waxman, maquiagem de Alberto de Rossi, tem duração aproximada de 151 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

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