quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma luz no escuro.


  Ao criar esse blog, não poderia deixar de lado meus filmes prediletos. E hoje falo sobre um deles, "Dancer In The Dark" estrelado pela cantora Björk.
 O filme conta a estória de Selma Jezkova (Björk), uma jovem mãe, natural da Tchacoslováquia, prestes a ficar cega, que batalha diariamente para juntar uma quantia em dinheiro a fim de pagar a  cirurgia do seu filho, o pequeno Gene Jeskova (Vladica Kostic), que sofre com o mesmo problema de visão dela. Tudo isso sendo contado em forma de musical.
  Chegando aos EUA, Selma foi recebida pelo casal Linda e Bill Houston, Cara Seymour e David Morse respectivamente. E é justamente Bill Houston que transforma a vida de Selma em um inferno. Afogado em dívidas, ele resolve revelar esse segredo para a pobre imigrante, que em troca da confiança conta estar ficando cega. Aproveitando isso, ele descobre onde Selma guarda suas economias para a operação do seu filho e rouba todo o dinheiro.
  Quando descobre que foi roubada, Selma vai a casa dos Houston e pede para falar com Bill. Mas ao chegar, Linda começa a acusá-la de seduzir seu marido. Ao encontrar com o marido da senhora Houston, Selma pede que devolva seu dinheiro e recebe uma resposta negativa. Durante a discussão, Bill afirma que só devolverá o dinheiro se sua inquilina matá-lo. Pronto. Toda a vida de Selma revira de cabeça para baixo, com esse acontecimento, culminando na tragédia final do enredo.
  Ao seu favor, Selma tem a amiga Kathy (Catherine Deneuve) e o apaixonado Jeff (Peter Stormare). Kathy trabalha na mesma fábrica da amiga imigrante e junto a ela dividem o sonho da mãe de Gene, que é fazer um musical. Sim, a matriarca Jezkova é apaixonada pelos musicais norte-americanos e por isso resolve fazer teatro. Já Jeff é apaixonado por nossa heroína e tenta conquistá-la o tempo todo.
  Björk, embora cantora, realizou um trabalho expecional, dentro do padrão que o diretor do filme, Lars Von Trier, trabalha. A estrela principal faz o telespectador entrar em catarse, sentindo os anseios, dores, perigos e esperanças que nossa personagem principal passa. Além de passar a mensagem de que por mais que sua vida dê errado, coisas aconteçam impedindo seus planos, não desista. Como a própria personagem Selma fala, tem de se acreditar apenas no amor. É justamente pelo amor ao seu filho, que ela não aceita o advoagdo contrado por Kathy, já que os honorários seriam pago com a quantia que juntou para a operação do pequeno Gene, e desiste de lutar para obter uma nova sentença judicial.
  Catherine Deneuve, chamada por Selma de "Cvalda", ou seja, uma pessoa grande e feliz, é uma senhora, aparentemente solteira, que ajuda sua amiga em suas limitações obtidas pela cegueira, e atendo aos desejos da heroína da estória. Peter Stormore faz um apaixonado devoto, sem nenhum tipo de psicopatia desenvolvida, já que não é aceito por nossa personagem principal.
  Cara Seymour e David Morse, por mais que suas personagens sejam fundamentais para o destino sofrido de Selma, executaram muito bem suas obrigações no filme. Ela, uma esposa devota e fútil que se engrandece por um dinheiro que seu marido herdou. Ele, um ex-rico por ter gastado todo o dinheiro herdado, cheio de dívidas, com desejos de morte, embora seja covarde para cometer suicídio, obrigando Selma a cometer, o que poderia ser chamado por mim de, um suicídio induzido, o que a leva para a cadeia.
  Lars Von Trier, como sempre, executa um fabuloso trabalho de direção, com técnicas de interpretação, arrisco dizer que seria a técnica da exaustão, além de se utilizar do recurso da câmera na mão, que contribui para enfatizar a instabilidade psicológica da personagem principal diante dos seus problemas. Nesse estilo de filmagem ele se inspira em Sergei Eisenstein e sua Montagem Dialética. Essa montagem é um "(...) princípio faz com que se evidenciem ainda mais as questões dos planos pormenores e da tensão causada tanto por esse tipo de enquadramento, como também pela movimentação para frente e para trás do profissional que grava as cenas, já que esse ato perpassa insegurança, medo, nervosismo, ansiedade e preocupação, sensações que são necessárias nesse processo dialético de filmagem." (TETI JÚNIOR, 2010:12). Como Selma tem um incrível amor por musicais, Lars Von Trier conta sobre a saga da vida dela através de canções. Pois por não enxerga praticamente nada, ela apura sua audição, e através dos sons que escuta imagina como se sua vida fosse um verdadeiro musical norte-americano.
  A trilha sonora orginal foi composta pela própria Björk. Músicas lindas, com letras e arranjos tocantes.
  "Dancer In The Dark", produzido em 2000, tem direção e roteirização de Lars Von Trier, com trilha sonora de Björk e composição das letras de Lars Von Trier e Sjón Sigurdsson, operação de câmeras de Lars Von Trier, coreografias de Vicent Paterson, direção de arte de Peter Grant, com duração aproximada de 135 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:
- TETI JÚNIOR, Ricardo Falcão. Análise da iluminação, a partir do Teatro de Brecht, no filme "Dogville". SAMPAIO, José Roberto Santos. (orientação).
  

5 comentários:

  1. 3 Palavras, 12 letras: Lars Von Trier. E me calo!

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  2. Filme colorido, com atuações impecáveis de Björk, que cuidou de boa parte da trilha sonora esteticamente é um filme do Lars Von Trier (ou seja, pode esperar um filme com uma riqueza estética absoluta) é um filme a se assistir.

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  3. Esse é um filme que me é caro comentar, mas vamos lá. Bem, Dançando no Escuro é um filme que tenho muito carinho por 2 motivos:um, é que pode-se perceber uma técnica estética do Lars fantástica que é a câmara na mão, como você citou. Essa técnica foi trabalhada pelo Lars em 95 quando ele e outros diretos lançaram o movimento dogma 95, que tem filmes brilhantes.

    O outro motivo de minha admiração por essa obra é pelo mergulho intimista que ela proporciona ao espectador. Selma, em uma canção do filme diz "pra quê ver as cataratas do Niagra se eu já vi a água e isso importa".
    E sua cegueira remete-me logo àquela cegueira do Saramago em "Ensaio sobre a Cegueira". Não uma cegueira que deve ser lida como biológica (No romance do Saramago os personagens ficam cegos, mas aí mora a metáfora). No Dançando no Escuro a cegueira também deve ser lida como metafórica, pois a partir dela é que mergulhamos no âmago do nosso eu, nas cavernas mais sombrias de nossa existência. E estar cego para o mundo externo (mundo dos sentidos, para Platão) impossibilita o homem do contato com o mundo como cópia e representação, e permite o homem o contato com o vazio, não o vazio nadificado, mas o vazio que Heidegger direcionou como 'significante'. Acho que se todos nós nos permitíssemos a uma cegueira (repito, não biológica), compreenderiamos muitos aspectos da vida que, de olhos abertos, nem se quer percebemos. Não aconselho a ninguém a morrer sem antes ter lido Ensaio Sobre a Cegueira e ter visto Dançando no Escuro. Obras clássicas.

    Ótimo blog, você tem tudo para brilhar.
    Continue trazendo a teoria para cá. Abs.

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  4. carinho especial por esse filme demais...
    meu primeiro tudo...
    ficaria como um dos mais interessante do Lars...
    Mesmo que o senhor cite Brecht, não dá para não pensar em Artaud e toda sua ética da crueldade sendo reivindica nesse filme, em como ele afecta a gente, provoca e cria o pensamento.

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  5. Duas pessoas que admiro muito trabalhando juntas, Lars e Bjork, é muita apelação!
    Este filme é de uma beleza indiscutivel, sensivel e cruel... leva-nos ao limite máximo do questionamento a cerca da nossa capacidade de doação e de amor incondicional, porque é justamente isso o que move Selma, é justamente isso que a faz dançar no escuro.

    Muito bom o blog, espero poder trocar dicas de filmes, estou lá no twitter: @marfimmosac (já te seguindo)
    Abração!

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