segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A oportunidade de uma, é o "erro" da outra.


  Quando encontrei o filme "Notas sobre um escândalo", confesso que o comprei mais pela afeição a Blanchett, do que pela própria Dench.
   E ao colocá-lo no aparelho de dvd para assistir, confesso que se quer olhei a famosa sinopse na contra capa e me arrisquei a descobri sozinho, qual o enredo do filme.
   Pois bem, nos primeiro minutos da apresentação da equipe de produção e direção do filme, ao avistar Philip Glass como o compositor da trilha sonora original, pensei "A trilha vai ser boa".
   O filme tem desde o início, um excelente roteiro produzido por Patrick Marber, que constrói um enredo concreto e sistemático, obedecendo uma curva dramática, diria que Aristotélica. No entanto, arrisco comentar que tem um elemento Brechtiniano, que é a presença do narrador personagem, quebrando a "quarta parede" interagindo, meio que indiretamente, com o telespectador contando os fatos que estão acontecendo e sugerindo os que já passaram para que seja entendido o comportamento da personagem Barbara Covett (Judi Dench).
   Barbara é uma senhora, talvez septuagenária, que ensina história na escola St. George, conhecida pela moral e bons costumes. E se depara com a chegada de uma jovem professora de Artes, Sheeba Hart (Cate Blanchett), que meio desajeitada e cheia de inovações para o ensino, se vê perdida por não controlar seus alunos.
   Covett, que em suas confidências em seu diário - a presença do narrador personagem, mostra ao telespectador as intenções e atitudes daquela senhora - demonstra aparentemente ter uma admiração tão forte, insinuando no início da película que sua personagem seria lésbica. O que com o desenrolar do enredo ficará claro que Barbara Covett trata-se de uma psicopata carente de afeto, caso conhecido como stalker, que escolhe uma vítima de forma aleatória e se propõe a infernizar a vida daquela pessoa.
   E assim se dá todo o desenrolar da estória a partir de quando Bar descobre que Sheeba tem um caso com um aluno da escola de apenas 15 anos e decide manipular a personagem de Blanchett, imaginando que assim teria a sua amada em seus braços. E Sheeba Hart ao descobrir que Barbara à dedurou, acaba perdendo a oportunidade de denunciar a suposta amiga à polícia por cumplicidade no crime, devido ao apreço que tem com a até então fiel amiga.
   O que falar das atuações de Cate Blanchett e Judi Dench? Seria algo, talvez, repetido, se levarmos em consideração os demais filmes feitos por ambas. Mas não podia deixar de comentar que Dench executa sua atuação primorosamente, mostrando ao telespectador em sua fria fisionomia facial a psicopatia de sua personagem, que parte de uma tremenda carência afetiva, por ser solteira em idade já avançada com medo de morrer sozinha. Blanchett, como sempre, atua também de maneira tão profunda, até mesmo na pele da jovem senhora Hart, uma bela mulher que resolve dar aulas de Artes, depois de 10 anos cuidando do filho com Síndrome de Down, mesmo sem nunca ter entrado em uma sala de aula e uma carreira artística sem muito sucesso. Embora, particularmente, o Hair Stylist tenha pecado um pouco no penteado "pueril" da personagem de Cate Blanchett. Não combinou nem um pouco com o rosto da atriz.
   A fotografia é de um efeito tão cotidiano, o que transparece a realidade, a ocorrência corriqueira do assunto tratado no filme. Destaco dois momentos na película. Exatamente quando Barbara Covett visita pela primeira vez Sheeba Hart, em que ambas estão no ateliê da artista, em que a jovem professora conta toda a trajetória de sua vida, demonstrando a confiança instantânea por Bar. Dentre os minutos reservados a essa cena, alguns segundos merecem o destaque mencionado por mim. É quando em um enquadramento externo do ateliê, o take, nos dá a sensação de uma pintura à óleo, meio distorcida talvez, causada pela chuva que caía naquela tarde festiva para a família Hart. E o segundo é quando o jovem Conolly entrega um anel de presente à Sheeba e que ambos se dirigem o vão embaixo da escada de entrada da casa dela. Nessa hora a tonalidade azul toma conta da tela, o que denota a passividade da sra. Hart ao menino. Isso pode ser notado também pela redução da postura corporal da mesma e portanto a discrepância do tamanho dele para com o dela, que está mais baixa, retraída, perante o garoto.
   Como pensado no início do filme ao ver Glass como autor da trilha sonora, seu trabalho está de fato impecável, transmitindo à quem assiste todas as angústias vividas por Bar Covett e Sheeba Hart.
   A personagem Ben, interpretada pelo ator Max Lewis, discute no filme a importância da inclusão social. E o jovem ator, fez muito bem o seu papel, diga-se de passagem, superando às suas próprias dificuldades.
   "Notes on a Scandall" foi produzido em 2006, com direção de Richard Eyre (diretor de Iris, também estrelado por Judi Dench), roteiro de Marber, trilha sonora de Philip Glass, baseado no conto "What was she thinking?" de Zöe Heller, com duração aproximada de 92 minutos, incluindo os créditos finais.

   Texto: Ricardo Montalvão.

   Referências:

Um comentário:

  1. Parabéns Ricardo... Escrever é sempre muito bom, principalmente sobre filmes.. Os filmes, como diz Morin, é um convite ao imaginário. Colocarei seu blog entre os favoritos. Vi, ontem, "O Concerto" e hoje " Um homem que grita".. Chegando por aí não perca!!!!! Um grande abraço e um grande ano...

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