domingo, 9 de janeiro de 2011

E esse quarteto amoroso, hein?


  E o filme para hoje é "Vicky Cristina Barcelona" do querido Woody Allen que rendeu a atriz Penelope Cruz o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2009.
  Ele conta as estória de Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), duas amigas que resolvem passar férias em Barcelona, a capital catalã. E em meios às descobertas de tal cidade, conhecem o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), que se separara de sua mulher, também pintora, mas conturbada e descompensada Maria Elena (Penelope Cruz).
  Vicky e Cristina são convidadas por Antonio a irem a um interior da Espanha para passarem juntos, o final de semana em um mesmo quarto e em clima de romance, afinal a intenção do nosso pintor era extremamente sexual. Mesmo se recusando a ir, para não deixar sua amiga sozinha, já que Cris aceitou o convite, a nossa personagem recatada, prática, séria e comportada, embarca nessa aventura. E eis que começam os primeiros problemas.
  Cristina se apaixona por Juan, mas Vicky começa um caso com ele, às vésperas de seu casamento, sem a amiga saber. Quando se envolve com Antonio, Vicky começa a se perguntar sobre seus planos de casamento, seu futuro marido e vê suas expectativas de uma vida a dois, ruirem totalmente. A personagem de Javier, por sua vez, fica também indeciso e cheio de perguntas sobre seus sentimentos com Vicky, após assumir seu romance com Cristina.
  Pois bem, o noivo de Vicky chega à Espanha, Cristina já mora na casa de Juan e quando menos se espera eis que surge, de forma triunfante dentro do seu universo, a esplêndida Cruz com sua personagem Maria Elena. E sua chegada traz uma nova roupagem ao filme. Eis que surge o casamento a três, entre Elena, Cristina e Antonio. Uma união em que a possível e mais próxima sensatez de Cris, dá um equilibro à convivência conturbada das personagens de Bardem e Cruz. E assim se dá o enredo do filme, entre triângulos, "quadrados" e quintetos amorosos com personagens atordoadas, escandalosas, contidas e extravagantes.
  Na boa, esse filme é um saco. Um tédio total, em quase todo ele. Quem o salva da chatice é a maravilhosa Cruz. Junto com ela vêm os reais conflitos da curva dramática, a fotografia dá um 'up', a direção de arte segue junto com a fotografia e tudo fica bacana. Chega dá gosto de assistí-lo, apenas nos momentos que Maria Elena está na estória. Passada Cruz, a repulsa pelo filme, retorna.
  A fotografia com seus tons cítricos por quase toda extensão do filme, embora com seu sentido, dá uma agonia, cansaço, estresse, inquietação e enjoa o telespectador. Ok, o sentido para esses tons cítricos, muito provavelmente, seja pelo fato de que as duas personagens de Hall e Johansson chegam a Barcelona em pleno verão, e pelas cenas nos principais pontos da cidade, traduz o calor da estação, o sangue 'caliente' dos espanhóis, a sensualidade exacerbada da cidade, de Cristina, Juan e Elena, e por aí vai. Mas venhamos e convenhamos, tons cítricos cansam. Já diz a psicologia e semiótica quanto à interpretação do sentido das cores. Enfim, esse clima tenso causado pelos tons de amarelo e laranja, só passa quando Penelope Cruz invade o enredo. Com ela vêm tons de vermelho, verde, azul, cinza, preto, branco e etc. Ou seja, o filme torna-se mais dinâmico, atraente e envolvente para os olhos e mente humana.
  Coincidentemente ou não, tenho escolhido filmes em que na maioria dos casos, há influências do Teatro Épico. Mas juro que isso é coincidência, certo. Bom nesse filme há a presença de um narrador, que serve para contar a nós que assistimos, a vida de cada uma de nossas personagens, sejam coisas que já aconteceram ou que estão a ocorrerem nesse momento, a fim de facilitar nosso entendimento. Isso é Brecht total no filme. E pelos posts anteriores, já devem ter percebido as explicações que menciono para exemplificar o Teatro Épico, contextualizando-o na linguagem cinematrográfica. Portanto, passarei ao próximo tópico.
  Rebecca Hall, e agora peço desculpas a Scarlett, é quem segura o enredo. Sua personagem é muito mais intrigante do que Cristina. Isso sem esquecer que a própria atuação dela está muito melhor do que a de Johansson. E olhe que aprecio bastante a "loirinha" querida de Allen. A personagem Cristina está no filme, completamente sem rumo. E não digo isso só porque é a intenção do diretor e, talvez aí, Scarllet tenha alcançado sucesso. Mas sim, porque a própria atriz se mostra, na película, perdida na personagem. É como se Cristina e Johansson não tivessem casado muito bem, não superando as expectativas para elas. Ao passo que Hall desbanca a colega de trabalho.
  Javier está maravilhosamente convincente no papel do sedutor e aventureiro Juan Antonio. Ele não surpreende muito em sua atuação, mas também não deixa a desejar. Mas Penelope Cruz, atende e surpreende, superando total, as suposições para ela como atriz em sua personagem Elena. Cruz agita o filme, dá um novo colorido a ele, traz a discussão sobre casamentos a três, sobre a possessividade dita por amor e suas consequencias, sobre traições, dúvidas, planejamentos, enfim, ela arrebenta no filme e com toda certeza, foi merecedora do Oscar que recebeu.
  "Vicky Cristina Barcelona", produzido em 2008, tem direção e roteiro de Woody Allen, direção de fotografia de Javier Aguirresarobe, direção de arte de Iñigo Navarro, figurino de Sonia Grande e cenografia de Alain Bainée, com duração aproximada de 96 minutos, incluindo os créditos finais.

Texto: Ricardo Montalvão

Referências:

Um comentário:

  1. to louca pra ver esse filme, ainda não tive oportunidade mas quem sabe em breve.
    cheiros

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