E o filme escolhido é “Burlesque”, escrito e dirigido por Steve Antin.
Uma pausa dramática. Vale lembrar que a pronúncia correta do título do filme é Burlesque, e não como brasileiro metido a falar inglês gosta de falar ‘Burlésque’. Embora na segunda música Cher pronuncie ‘Burlésque’, ouvindo as demais, percebe-se que é por mera entonação.
“Burlesque” conta a estória da jovem Alice (Christina Aguilera), mais conhecida como Ali, que sai de sua cidade natal Iowa e parte em direção a Los Angeles a fim de tornar-se uma cantora de sucesso. Após participar de diversos testes para tal profissão, eis que ela encontra o clube Burlesque, localizado na melhor vista panorâmica de Sunset Trip, que tem como atração principal mulheres lindas, vestidas com roupas provocantes, que dançam e cantam com playback. O clube é comandado por Tess (Cher) e que tem como seu fiel escudeiro Sean (Stanley Tucci). Tess é separada do seu marido Vince (Peter Gallagher), embora ambos continuem sócios do empreendimento.
Ao chegar na boite, Ali conhece Jack (Cam Gigandet), barman do local que a encaminha a Tess, a fim de que a moça atinja o seu objetivo. No entanto sem sucesso com a dona do local, Ali, resolve pegar uma bandeja e começa atender aos clientes por conta própria. Essa audácia da jovem, embora reprovada por Tess, faz com que a aspirante a cantora comece a trabalhar no local. Os dias passam e a personagem de Aguilera vai decorando músicas e coreografias dos números que são apresentados, e que com o afastamento de Georgia (Julianne Hough), por estar grávida, abre-se uma audição e é quando Ali aproveita a oportunidade. Ela sobe ao palco, dá seu show à contra gosto da proprietária, no entanto Tess resolve contratá-la.
Porém o clube Burlesque tem mais uma baixa em seu corpo de baile. Nikki (Kristen Bell), por beber sem limites, é proibida por Tess de se apresentar. Alice é então chamada para substitui sua colega de trabalho. Entretanto, no meio do espetáculo, Nikki desliga o som, para que Ali fosse prejudicada. O que ela não imaginava é que dentro da garganta de sua rival, existe uma voz fenomenal que ao ecoar pelas paredes do Burlesque, o publico aplaude, bastante entusiasmado, a performance da novata do grupo. Voilá! Alice assim estoura com um sucesso absurdo e o clube, que está prestes a fechar suas portas e ser leiloado, volta a ter suas mesas lotadas.
E é nesse caminho que o filme conta a estória de Alice e Tess, empregada e patroa, que se tornam grandes amigas e conseguem salvar o Burlesque da falência.
“Burlesque” marca o surgimento da cantora Christina Aguilera como atriz. E devo afirmar que nos padrões do gênero musical ao qual o filme se enquadra, Aguilera desempenhou bem sua função. Como cantora, a moça tem uma carreira, digamos que, estável, lançando seus CDs, que fazem sucesso pelo mundo a fora. Não discuto aqui se o estilo musical dela é bom ou não. Afinal não sou crítico e muito menos de música. Reafirmo apenas, que ela está convincente e deslumbrante no seu papel. Como diz a personagem de Tucci “Alice. Bem vinda ao país das maravilhas”, e ela faz sim de Burlesque, juntamente com, a consagrada atriz e vencedora de Oscar, Cher, um país das maravilhas.
O que falar de Cher? Há mais de 40 anos em carreira artística, entre aposentadorias e retornos triunfantes, nossa querida Tess, está também fantástica. Embora, não receba tanto destaque musical e coreográfico no filme. Ela só interpreta duas músicas. A primeira “Welcome To Burlesque”, em que canta e dança, e a segunda “You Haven’t Seen The Last Of Me”, com uma performance bem estática, sentada em uma cadeira, e que quando está de pé, não dança tanto. A de se frisar que a música narra a passagem sofrida de Tess com o provável fechamento do clube, portanto não necessita de uma performance coreográfica exigente. Essa canção levou para casa o Globo de Ouro de Melhor Canção Original de 2011. O papel de Cher, não é de tanto destaque, pois como fala o próprio subtítulo do filme “É preciso de uma lenda para ser fazer uma estrela”, a lenda é Tess e a estrela a ser feita, a ser construída, é Alice.
Vale mencionar aqui as atuações de Tucci, pelo excelente ator que é, à de Peter Gallagher, como o ex-marido desesperado em vender o Burlesque para o rico e famoso empresário Marcus (Eric Dane), a atuação de Gingandet, que formará par romântico com Aguilera, mas sem esquecer-se do querido e divertido Alan Cumming, que interpreta Alexis, bilheteiro da boite. Contudo, devo lamentar que não entendo o motivo pelo qual escalaram Cumming, já que só deram duas cenas a ele. Uma lástima!
Em “Burlesque” podemos notar citações e inspirações em diversos filmes. Sua inspiração maior é no filme “Chicago” de Rob Marshall, em seus números musicais, em movimentações coreográficas que se assemelham às desse filme de Rob e até mesmo na ambientação de cabaré. Há também inspiração no filme “Show Bar”, quanto à estória de uma jovem do interior que segue rumo à cidade grande em busca de fama, e sem esquecer-se do próprio filme “Nine”, também de Marshall. Já quanto às citações, temos o numero musical “Diamonds Are A Girl’s Best Friend”, que cita a interpretação de um numero musical semelhante que a estonteante Marilyn Monroe faz no filme “Os Homens Preferem As Loiras” de Howard Hawks; ao filme “Moulin Rouge” de Baz Luhrmann, no momento em que Aguilera está com seu cabelo a la “Lady Marmalade”; ao filme “La Mome Piaf” de Olivier Dahan, quando Christina está cantando “Bound To You”, em que é filmada de costas e a luz frontal, tomando uma posição de contra-luz, devido à localização da câmera, menciona a cena em que Piaf, após saber da morte de Marcelo, o seu primeiro grande amor, adentra um palco cantando “L’Hymne A L’Amour”. E a ultima citação que consegui captar, na verdade não é a ultima por ser na primeira metade do filme, é a cena em que Ali está andando de motoneta com Jack, em que tem um lenço enrolado na sua cabeça e com o vento, o adereço acaba voando. É uma cena bastante clássica, no entanto, infelizmente, não me recordo do filme. Se alguém conseguir identificá-lo, por favor, esteja à vontade em mencionar.
“Burlesque” conta com cenários e figurinos majestosos, que nos levam à verdadeira época, em que esse gênero musical era realmente um estrondo nos Estados Unidos. Sim, Burlesque é um tipo de musical em que mulheres belíssimas e com roupas bem provocantes e sensuais dançavam e cantavam dublando grandes artistas femininas da época nos Estados Unidos. O que é fielmente mostrado por Antin nos números musicais, cenários e figurinos do clube. As direções de arte e fotografia também não ficam por baixo. Em seus enquadramentos, a fotografia, enriquece ainda mais o destaque das vestimentas e dos objetos cênicos, que são mostrados em cena, pela direção de arte, para que transportem o telespectador para a época em que o Burlesque era a sensação musical.
É possível encontrar alguns probleminhas no filme. O ritmo de resolução das problemáticas é bem rápido. O que nos faz crer que a batalha pelo sucesso é extremamente fácil. Há dois erros de continuidade, como por exemplo, na sequencia em que Cher faz a maquiagem de Aguilera. Tess começa a passar um batom claro na moça, em um take, e no seguinte, Christina aparece com a boca já produzida com um, bastante, vermelho. E o segundo erro é quando Tess faz, do documento de aviso prévio de despejo, um aviãozinho de papel e lança quando Sean entra em sua sala. É visível que quando ela arremeça o objeto ele vai em direção ao chão, e quando focalizam Tucci entrando, o pequeno avião tem um vôo espetacular. Há quem diga que a sequencia de cenas em que Ali ouve as músicas dos números musicais do Burlesque e começa a decorar as coreografias pelo meio das ruas, seja algo fora da realidade e exagerado, mas para quem dança isso é algo bastante normal. Ou talvez, não fora de contexto, já que é comum entre dançarinos e bailarinos acordar no meio da noite para repassar variações de coreografias.
“Burlesque”, produzido em 2010, foi escrito e dirigido por Steve Antin, figurinos de Michael Kaplan, direção de arte de Chris Cornwell, direção de fotografia de Bojan Bazelli, trilha sonora original de Chistophe Beck, com aproximadamente 119 minutos, incluindo os créditos finais.
Texto: Ricardo Montalvão
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